quinta-feira, 23 de outubro de 2008



Mínimas XXXIII

Aumentei meu corpo,
embora diminuindo-lhe a sombra,
pois por dentro fiz crescer a luz da alma também.

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Minha alma é o espelho
no qual se mira o amanhã , sem rosto ainda.

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No armário do ontem
permanece ainda guardada
a ação que a vontade não ousou vestir.

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O futuro é um trem que ao presente chega,
mas sem ter o passado vê-lo partir.

***

Uma facada me deu a saudade:
do meu coração sangrou Cartola.

sábado, 4 de outubro de 2008

Mínimas XXXI


No avesso da palavra
pode-se ver qual sentimento cerziu suas tramas .

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Pela eternidade não se espera,
tampouco pode ela passar.

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A memória da cor
nunca se esquece do que torna eterno
os dias felizes.

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Sorrimos nos retratos em agradecimento ao tempo,
que deixou conosco um instante seu ficar.

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Só quando passa o tempo é que vemos
a quais palavras nossas ações foram fiéis.

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O holofote da lua
sempre me acha ,
sobretudo quando em mim mesmo fico no escuro.





Máximas XXXII


Melhor sabe despertar
quem pela manhã abre os olhos
como se fosse pela vez primeira.

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Os erros são o melhor adubo
para quem aprende para além de si crescer.

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Dentro da criança se esconde o anjo;
dentro do adulto se esconde a criança;
dentro do idoso se esconde o adulto;
e de dentro do idoso voa o anjo,
pondo fim à brincadeira.

***

Enquanto lhe estendia a mão direita,
com a esquerda me agarrei onde a morte não alcança,
para assim levantar nós dois.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008




Mínimas XXII


Ando necessitado de cores,
mais do que de arroz e feijão.

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Nutre-nos mais o poema
que junto se fez com o pão .

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O Destino não deixa a alma escolher o caminho sozinha.
O Acaso diz que é igual qualquer caminho que a alma escolha.
Mas só a Arte dá ao Acaso do caminho o andar que se fez Destino.

terça-feira, 19 de agosto de 2008






Mínimas XXXI


O que pode a arte,
sente-o o que em nós não é obra ainda.

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Quando se abre a flor do amor,
debruça-se o sol para ver chegar a lua.

***

Rabisca-se primeiro no coração, antes de toda palavra,
a lição que nenhum livro sabe ainda.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008





RETRATOS

Ao pé da amendoeira
caem inertes as folhas amarelas,
que ainda ontem pareciam eternas.

Mas acima delas,
em verdes folhas inesperadas,
abre-se em broto a vida renovada.

segunda-feira, 28 de julho de 2008





A Bíblia só deveria ter folhas em branco:
que as palavras de Deus fossem os desenhos que nelas fizessem as crianças.

***

A lua só se torna cheia
quando nela o sol se reflete por inteiro ,
até de si se esquecer.

terça-feira, 22 de julho de 2008



Mínimas III


Nietzsche acreditava nas estrelas como divindades:
a luz que emanam bendiz todo caos.

O Deus de Descartes era a Régua:
no altar da Retidão,como vítima,
ele queria que fosse sacrificado o coração .

Platão invejava os pardais:
e como tais assobiou na palavra.

Como criança assaz curiosa,
Aristóteles queria desmontar toda a natureza,
ao preço de se perder o divino brinquedo.

Espinosa dava aulas sem dizer palavra:
de coração a coração se falava e se escutava.



Mínimas II


As ações são obras que se perdem
se nos detemos muito no esboço delas.

O bom livro é para ser lido com o ouvido.

Ao sutil vê quem é amigo das cores.

Não guarde palavras em sua alma:
são bagagens que limitam a viagem.

No desenho da criança
o inconsciente nos fala seu idioma.

Esquecer é aprender a viver de novo.

Ao seguirmos os passos do tempo na areia,
o tempo é o mesmo vento que apaga os passos atrás.

O melhor conselho é ação que se dá de presente.

Vive mais quem sabe ver as horas no coração.


MÁXIMAS MÍNIMAS


Mínimas I


O dia amanhecendo
na criança sorrindo se espelha.

A melhor maneira de ver no escuro
é mantendo a alma acesa.

A maior força não nasce do músculo,
mas do invisível impulso que pôs o coração a bater.

Pelo aroma da flor
a terra se transubstancia em alma.

Os sonhos são fronteiras que se apagam
assim que as atravessamos.

A insubmissão como meio;
a arte como fim;
o coração como princípio.

Só deve frutificar na boca
a palavra cuja semente na ação se plantou .

Amadurece-se não só na vida,
mas também na forma de expressão.

Há mais estrelas que mil vezes mil
todos os grãos de areia.

Estenda a mão como uma corda caída do céu.

O sol não tem memória do brilho que ontem fez.

O caminho para ir e o caminho para vir
não conhecem os mesmos pés.

Só as idéias que em visita passam pela nossa alma
podem nos trazer notícias de onde se esconde o Ser.

Quando um amigo lhe abre a casa
somente a entre se na porta deixar toda arma.

Ver seu próprio rosto na face do estranho
torna próximo o mais distante.

Os dias, os meses e os anos passam...
Mas nunca passa a eternidade.