sexta-feira, 2 de junho de 2017

introdução à filosofia

                                                            Introdução à filosofia[1]               
                                       
                                                                                         Serás menos escravo do amanhã,
                                                                                                   se te tornares dono do presente.
Sêneca
                                                                                                                                                                                                            

O não-filosófico está talvez mais no coração da filosofia que a própria filosofia,
 e significa que a filosofia não pode contentar-se
em ser compreendida somente de maneira filosófica ou conceitual.

Gilles Deleuze

Mais importante do que o pensamento é o que “dá a pensar”;
mais importante do que o filósofo é o poeta.

Gilles Deleuze

                                                            
  
Dar uma definição rápida do que significa a filosofia não é tarefa fácil. Oriunda do grego, a palavra “filosofia” nasceu da reunião de duas outras palavras: “philo” e “sophia”. “Philo” significa tanto “amor” como “amizade”. Isso quer dizer que a filosofia não é prática apenas  intelectual ou racional, pois ela se nutre também de uma dimensão afetiva, expressa exatamente pelo termo “philo”. Deleuze afirma, por exemplo, que a filosofia não é apenas Conceito, ela também é Afeto (este termo não significa a mesma coisa que o mero sentimento [2] ). Espinosa ensina, por sua vez, que a filosofia é prática que se faz na Alegria. Outros, como Kierkegaard, Heidegger e Sartre, enfatizam o afeto da Angústia. Há ainda Aristóteles, para quem a filosofia começa na Admiração. Nunca, absolutamente nunca, algum filósofo ensinou que a filosofia pode nascer do ódio, da covardia, do medo ou da intolerância. Ao contrário, a filosofia é um esforço para se tentar vencer essas “sombras”, como diria Jung, ou essas “tristezas”, nas palavras de Espinosa. E é antes de tudo naquele que filosofa que a vitória deve anunciar-se primeiro.Não para fazer do filósofo um privilegiado,mas talvez para fazê-lo estar à altura daquela lição sempre atual de Espinosa: "não zombe e nem lamente, compreenda. A partir da compreensão, aja." 
O filósofo não é apenas aquele que domina a prática teórica e metodológica de definir conceitos, ele também é aquele que se afeta pelo que “dá a pensar”, e o que dá a pensar nem sempre pode ser explicado por conceitos. Nem sempre o que dá a pensar já está pensado e definido em livros e teorias. Um filme, uma música, um gesto, uma paisagem , um poema, um acontecimento...também dão o que pensar, ou podem dar o que pensar. Mas nada dá tanto a pensar do que a própria vida.
“Sophia” significa “sabedoria”. Assim, uma definição simples e geral da filosofia seria: “amor ou amizade pela sabedoria”, “afeto pela sabedoria”. Visto dessa maneira, o filósofo não é apenas amigo da sabedoria, ele não é apenas um intelectual, ele também é um ser que, como diz Espinosa, cultiva uma paixão alegre [3].  O filósofo se mostra filósofo não apenas falando ou escrevendo, ele deve mostrar-se filósofo igualmente, e sobretudo, agindo. Segundo Cícero, o mero sofista busca a retórica das palavras, almejando persuasão; já o filósofo/sábio se exercita em outra retórica: a das ações, cujo objetivo é a compreensão.
“Sophia” não é só teoria, fórmulas, razões. Ela também é Vida, Arte, Poesia. São a essas coisas que o filósofo dedica Afeto. Para Deleuze, não há filosofia sem um modo de viver filosófico, sem um modo de vida. Um modo de vida filosófico não significa uma vida erudita mergulhada em livros, nem um tipo de vida que, para ser vivida, necessita de um título filosófico auferido pela academia.
Além disso, há uma diferença entre a filosofia e o filosofar. Heidegger, por exemplo, afirmava que a filosofia existe desde a Grécia. Porém, o filosofar, enquanto pensar, inaugurou-se na aurora da filosofia, entre os pré-socráticos. Nestes pensadores, o pensar foi exercido de forma múltipla, mais intuitiva do que sistemática.  Depois adveio o seu ocaso com Platão e, desde então, “velou-se”. Para a prática do pensar retornar, pensava o filósofo alemão, é preciso reviver a experiência da “origem”, como a viveram os pré-socráticos, e compreender que o pensar somente se anuncia em uma linguagem que nasça da experiência do Ser como Criação, Poesia. O Pensar é experiência com a aurora dele mesmo.
A filosofia é uma disciplina com sua história, metodologias, temas. O filosofar é uma ação feita não apenas pelo filósofo. Por exemplo, quando alguém, em uma situação cotidiana, emite um juízo acerca da beleza ou ausência de beleza de uma canção que ele ouve no rádio de seu carro, sem que saiba ele está filosofando ou tentando filosofar, pensar, uma vez que ele está emitindo um juízo de gosto. O gosto é um tema da Estética. Se outro homem ao ler o jornal lamenta a ausência de caráter dos políticos, tal homem também está a filosofar, pois ele indaga acerca do caráter. Em grego, “caráter” se diz “ethos”. A ética, enquanto disciplina filosófica, tem na ideia de caráter o seu grande tema (de Aristóteles a Kant, passando por Espinosa). Em geral, quando o senso comum imagina o que é a filosofia, ele costuma identificá-la apenas com uma parte dela: a metafísica. Mas linguagem, justiça, poder, potência, amor, desejo , Deus ( enquanto objeto da teologia racional ou natural)...são temas que podem suscitar o indagar filosófico.
Sócrates inaugura a atitude filosófica indo debater na praça, em meio ao povo, esses temas. Sócrates buscava , com a filosofia, mudar a propensão dos homens em não questionarem suas opiniões ( esse não questionar-se está na base do que Sartre designa “consciência irrefletida”). Para lutar contra inimigo, pensava Sócrates, é preciso ir enfrentá-lo onde ele mora: a praça. Sócrates é o acorrentado que se liberta, sai da caverna e depois retorna para tentar fazer com que os outros acorrentados tomem consciência de que estão acorrentados e retirem o grilhão com a própria mão, pois o tomar de consciência,  enquanto prática de autonomização, é ação que um outro não pode fazer por nós. O parteiro ajuda no ato de parir, mas a consciência que nasce pertence àquele a quem ele auxiliou a nascer.
 De Platão a Deleuze, o inimigo do pensamento é a opinião, a doxa. É Platão que, de certa maneira, afasta a filosofia das praças, reservando o filosofar exclusivamente para aqueles que também soubessem medir, contar, enfim, matematizar. Sabe-se que  Platão afixou à entrada da Academia a seguinte ordem: “não entre aqui quem não for geômetra, mas  também não entre aqui quem só for geômetra”. Esse isolamento da filosofia em relação ao filosofar nasceu exatamente com esse nome: Academia . Este foi o lugar construído por Platão para ser o templo de uma nova divindade: a  Deusa-Razão. Muitos séculos depois, Nietzsche chamará essa Deusa-Razão de um Ídolo construído por Platão para se proteger da multiplicidade, da contradição, da mudança, enfim , da Vida. Nietzsche inclusive opta por filosofar através de uma linguagem não acadêmica, mais próxima da alegoria poética do que da sistemática conceitual. Não obstante, ele não é menos filósofo do que o sistemático e conceitual Kant. Em O crepúsculo dos ídolos, Nietzsche afirma que o filósofo autêntico sempre tem na mão um “martelo”, que é a crítica que ele deve endereçar a “esses Ídolos” . Segundo Francis Bacon, a quem Nietzsche toma de empréstimo o termo, Ídolo é algo que, no âmbito do conhecimento,  ao invés de fazer o homem pensar, leva-o apenas a cultuar ou adorar. O culto ou a adoração são justificáveis no campo religioso, porém se tornam danosos quando trazidos para a prática do pensamento filosófico, que sempre tem de ser crítico e livre. “Crítica” provém do termo grego “krisis”: capacidade de julgar, discernir ou avaliar.
Sophia também pode ser um nome próprio. "Sophia", ou "Sofia", é o belo nome que muitos pais escolhem para chamarem a quem trazem à vida. Por outro lado, “Teoria” é tão abstrato que alguém vivo não se deixa chamar assim, tampouco pode ser o nome de alguém “Razão” ou “Ciência”. Não dá para imaginar alguém se chamando “Razão”! (embora muitos imaginam encarná-la e serem donos exclusivos dela...).
 Tal como uma pessoa , a sabedoria só atende se for chamada pelo seu nome. Se alguém a chamar apenas de "razão" ou "ciência" ela não atenderá, ela não virará seu rosto para quem assim a chamar, mesmo que grite, mesmo que, com poder, ordene. Mas assim como uma pessoa é mais do que seu nome, a sabedoria é mais do que sabedoria, ela também é generosidade, coragem, modéstia, invenção.
Platão, São Tomás e Espinosa destacam ainda outro nome para a sabedoria: fortitudo, firmeza ( que é o oposto da volubilidade). Em A República, Platão afirma que a firmeza, ou fortaleza, é a virtude daqueles que defendem , com coragem, a cidade. E sem a defesa prática da cidade não pode haver atividades contemplativas. A cidade em questão não é apenas a física , pois a cidade externa é reflexo da cidade interna que a própria alma é. Espinosa torna ainda mais filosófico o tema, e diz que a fortaleza é firmeza para consigo e generosidade para com o outro, ao passo que a fraqueza  é rigidez no julgamento para com  o outro e generosidade complacente  apenas  para consigo. Enfim, é na prática das virtudes  que se pode reconhecer também a sabedoria. Um homem que exerce a virtude da justiça realiza, de forma prática, a sabedoria – mesmo que ele nunca tenha lido a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e conhecido teoricamente a definição do que é a justiça. Ao contrário, alguém pode conhecer todos os livros de ética que definem o que é a justiça, porém nada de justo haver em suas práticas. Tal homem é, quando muito, um erudito, não um sábio.
A principal diferença entre a sabedoria da filosofia e o conhecimento da ciência  repousa no fato de que todo conhecimento científico  pressupõe um objeto. Por exemplo, nosso corpo pode ser objeto de conhecimento da Física, da Biologia, da Química, da Medicina, etc. Cada ciência faz um “recorte” sobre nosso corpo, para assim torná-lo objeto de conhecimento.  Ao fazer isso, a ciência perde de vista o todo, já que nosso corpo não é apenas uma realidade física, biológica ou química, mas a reunião disso tudo e mais outras coisas. Sartre chega a dizer que é o corpo do outro que possui órgãos que podem ser tratados como se existissem em separado do ser inteiro de alguém.  Todavia, quando vivo meu corpo, o sinto como a expressão tangível de meus desejos, de meus projetos. Ou seja, o corpo é parte de um todo que não é apenas corpóreo.
Ao realizarmos esse tipo de afirmação, buscando assim o todo , entramos sem dúvida na filosofia...Ou melhor, nos damos conta de que nunca podemos sair dela. A ciência disseca a realidade em partes separadas e estanques, criando assim um conhecimento especializado, a filosofia une e liga cada parte ao todo. Este todo não é um todo fechado à maneira de um círculo. Se o fosse, não seria o todo, seria  tão somente  um conjunto, um  conjunto de coisas. E um conjunto de coisas também pode ser um objeto de estudo da ciência. Em grego, chama-se “holos” esse todo buscado pelo saber filosófico. Sartre conclui O ser e o nada nos dizendo que a consciência e o mundo formam um “holos” . De holos procede holismo, que é a tentativa de ver matéria e espírito como duas expressões diferentes de uma mesma realidade.
Durante o século XIX, no auge do positivismo, muitas dessas ciências supracitadas não apenas desconsideravam a filosofia, como também afirmavam que ela não possuía nenhuma serventia para a humanidade. Imperava a ideologia cientificista (que Machado de Assis, no livro O Alienista, ironizara tão bem). Munia essa ideologia   o “reducionismo”. Ou seja, cada ciência achava que o objeto por ela estudado não era uma parte da realidade, mas a realidade inteira. Assim, os químicos achavam que tudo podia ser explicado quimicamente (inclusive os sentimentos humanos). Os biólogos, por sua vez, achavam que todo comportamento humano, inclusive aqueles considerados os mais nobres (como os comportamentos morais e éticos) , nada mais eram do que o efeito de condicionantes biológicos. No direito, por sua vez, esse reducionismo marcou o surgimento do positivismo na França, quando a lei escrita, posta pelo Estado, passou a ser considerada a única fonte de direito, tornando-se depois, o positivismo, uma ideologia. Radicalizando essa visão, Napoleão retirou o ensino de filosofia nas faculdades de direito da França.
Todavia, mais do que fazer de uma parte a verdade do todo, o que tal procedimento positivista fazia era tomar uma parte como um todo à parte. E o mais absurdo nos reservava o século XX, quando uma parte da filosofia, a Lógica, passou a pretender ser a filosofia inteira: tudo aquilo que não era lógico foi considerado palavra vazia sem sentido. Os positivistas lógicos, por exemplo, para ironizarem a “inutilidade” da metafísica, costumavam exemplificar tal inutilidade com frases tiradas de  Heidegger ,  como a célebre  “o nada nadifica”. Mas talvez não exista nada mais sem sentido do que a loucura, a loucura racional, de uma lógica que queira, enquanto parte, ser o todo... “Uma razão insone engendra monstros”, ensina-nos Shakespeare .
Se a sabedoria da filosofia não possui objeto, no sentido em que o conhecimento da ciência o possui, então o que exatamente a filosofia estuda?A filosofia enquanto sabedoria espelha intimamente as principais atividades da alma humana.  Esta possui quatro atividades principais: pensar, conhecer, agir e sentir. O conhecer é atividade realizada pela razão enquanto logos ou  inteligência ( em seu sentido mais amplo); o agir, por sua vez, é uma atividade exercida pela vontade; enquanto o sentir é uma atividade realizada pela  parte de nossa alma designada como desejo  (ou sensibilidade). Razão, vontade e desejo são faculdades da alma humana. O pensar é uma atividade ou potência exercida pelo pensamento ( em grego, “nous”).Assim, pensar não é a mesma coisa que conhecer. Por exemplo, conhecer o direito é uma atividade que diz respeito à Ciência Jurídica. Mas pensar o direito é uma atividade exercida no âmbito da Filosofia Jurídica. Conhecer a vida é atividade da Biologia, ao passo que pensá-la cabe à Filosofia da Vida. Por isso, o pensar não é atividade de uma faculdade específica, uma vez que ele é uma atividade, um processo, que concerne à alma como um todo em relação consigo mesma e com o mundo.
A parte da filosofia que trata do conhecer chama-se Epistemologia ( ou Teoria do Conhecimento).A epistemologia é a parte da filosofia que interessa principalmente às ciências na medida em que estas procuram refletir sobre os seus métodos e procedimentos. O “objeto” da epistemologia é o próprio conhecer (enquanto atividade das ciências), e não o objeto que cada ciência isolada estuda. Assim, embora a filosofia também exerça um tipo de conhecimento, este difere daquele exercido pela ciência.  Enquanto o conhecimento, na ciência, aplica-se a um objeto, o conhecimento que a filosofia realiza se aplica sobre o próprio conhecimento da ciência, estudando principalmente como ele ocorre e quais suas bases e métodos. E é nessa questão do método que vemos surgir epistemologias as mais diversas, até mesmo conflitantes, pois não existe apenas um único método, e sim métodos distintos. Algumas filosofias priorizam a indução ( os empiristas), outras a dedução ( os racionalistas), e há ainda as filosofias que dizem que tudo começa na contemplação, e há outras filosofias ( como a de Bergson) que fazem da intuição o coração da atividade filosófica; e há ainda Leibniz, que propõe a abdução como método ( Deleuze, dando à abdução um sentido um pouco diferente, a coloca como processo imanente à prática criativa que a filosofia também é).
A Ética e a Moral são as duas disciplinas filosóficas  que se ocupam do agir humano.  Por isso, estas são as disciplinas da filosofia que mais interessam  à Economia, à Política e ao Direito, pois estas três ciências  estão intimamente associadas ao agir humano, ou seja, à vontade enquanto faculdade.
 O sentir é uma atividade da alma humana  estudada por uma disciplina da filosofia intitulada Estética . Alguns desdobram o sentir também em fazer. Em grego, fazer se diz “poiésis”, nascendo assim o termo poética. O fazer da poética não é o mesmo que o agir da ética. Nesta, trata-se do agir humano, ao passo que o fazer da poética concerne ao criar uma obra de arte. E aqui pode nascer uma questão decisiva: se a obra a ser criada é  a própria vida que se leva, surge então uma íntima relação entre a arte e a ética, entre a poesia e como agimos/vivemos, nascendo assim o que Foucault chamava de “estética da existência”, que é, na verdade, uma “poética da existência”. Aqui, não apenas o fazer e o agir se revelam como arte, como também o próprio pensar: este se mostra então como criação e produção de sentido para a vida[4].
Por tratar das maneiras e capacidades da alma humana de sentir, a Estética interessa principalmente às artes ( pintura, cinema, música, poesia, etc.). Desse modo, através da Estética  a filosofia realiza uma interseção com as artes. É por isso que podemos afirmar que a filosofia não está apenas nos livros de filosofia, mas também nos filmes, nas músicas, nas poesias e nas pinturas (na medida em que essas artes , tocando a nossa sensibilidade, faz-nos também pensar).
 É preciso deixar claro que o pensar, o conhecer, o agir e o sentir não são atividades  estanques. Afinal, para agir, por exemplo, é preciso sentir. Por outro lado, muitos danos podem ocorrer quando agimos sem pensar. E quem pensa sem sentir não pensa verdadeiramente.
Na história da filosofia vemos os filósofos discordarem sobre qual atividade é a mais importante. Os racionalistas, por exemplo,   conferem total supremacia à razão e pouca relevância à sensibilidade. Por este motivo, eles acreditam que somente podemos conhecer algo de verdade se nos afastarmos de nossa sensibilidade.  Por outro lado, há filósofos que   tendem a dar maior importância ao desejo e à sensibilidade, denunciando os excessos da razão epistemológica.
 Conforme dizia o escritor Balzac, “quando a forma predomina, desaparece o sentimento”. Em nossa alma, a razão é a faculdade mais formal de todas. Daí seu perigo quando se confunde o pensar com o mero conhecer.
Então, através da Epistemologia a filosofia oferece elementos para as ciências compreenderem melhor seus métodos e procedimentos; por intermédio da Moral e da Ética a filosofia  estabelece um diálogo sobretudo com a Política e o Direito , fornecendo elementos críticos para se compreender tais atividades e estabelecer suas finalidades;  pela Estética ( e pela Poética)  a filosofia explora o mesmo território que as artes também exploram: a nossa sensibilidade. Mas de todas as atividades da alma a que mais caracteriza a filosofia é exatamente o pensar. O pensar é a mais importante atividade da filosofia justamente porque  ele não interessa apenas à filosofia, mas a todos enquanto conhecemos, agimos e sentimos.  Portanto, sempre que procuramos seja pensar o que sentimos, seja pensar como e porque agimos ou pensar o que conhecemos,  nesse esforço de compreensão se encontra  o filosofar.Pensar, enfim, é questionar.  A filosofia é a arte do questionamento. O Pensar é a atividade estudada pela Metafísica.






[1] Esse texto é versão ampliada do capítulo de um livro que escrevi.
[2] Ver O que é a filosofia? , de Deleuze e Guattari.
[3] Espinosa distingue duas formas de paixão: a paixão triste e a paixão alegre. A paixão triste é aquela na qual ou odiamos algo ou nos sentimos odiados por algo. Odiar é desejar diminuir ou destruir. Somos dominados pela tristeza (isto é, pela impotência) quando nos ligamos às coisas querendo destruí-las ou nos submetendo aos seres que nos diminuem ou destroem. A paixão alegre, ao contrário, é a potência que nasce de nos ligarmos ao que aumenta nossas capacidades de agir e pensar, isto é, nossa existência. Ele resume isso nessa passagem do livro Tratado sobre a emenda do intelecto: “Nossa suprema felicidade ou infelicidade depende da qualidade do ser ao qual nos unimos através do amor”. Se amamos o que nos aumenta , acharemos a felicidade. Se “amamos” o que nos diminui, logo esse amor se converterá em ódio. Quanto mais perfeito o ser que amamos, mais indestrutível é o amor, nunca ele se converte em ódio. Para Espinosa, o amor mais indestrutível é o amor ao Ser que é Amor, ou seja, Deus ( Natura Naturans).
[4] Alguns acrescentam ainda, dentro do fazer, a atividade técnica. Assim, o fazer poderia ser dividido em poética e técnica. A poética visa a produção de bens simbólicos, ao passo que a técnica produz instrumentos técnicos. Mas o que os modernos chamam de “técnica”, os gregos designavam como “mekané”. Desse termo se origina “máquina”, enquanto que “tekné”, para os gregos, era uma forma de arte. Contudo, a medicina era vista também como uma arte, assim como a pilotagem de um navio. Em sua Arte Poética, Aristóteles diz que o autor de uma peça de teatro usa de arte (tekné) para criar o enredo, os personagens, enfim, o drama. Mas se na peça assim criada for preciso, durante uma cena, que uma deusa cruze o palco voando, será necessário chamar um engenheiro para que este, usando a mekané, fabrique um guindaste. O piloto do navio usa a arte para pilotá-lo, porém é preciso a mekané se o mesmo navio encalha (  precisando ser puxado por alavancas mecânicas).Somente com a modernidade houve a identificação da arte exclusivamente com as Belas Artes, enquanto que tekné e mekané passaram a ser usados como termos quase sinônimos. Quando Heidegger critica, por exemplo , a técnica , em verdade seu alvo é a mecanização ou instrumentalização da vida.






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