sábado, 7 de janeiro de 2023

Epicteto: a libertação pela filosofia

 

Sob o Império  Romano , alguns mercadores de escravos obrigavam seus servos  a decorarem  Homero, Hesíodo, Safo, Píndaro...Esses escravos decoravam os textos e sabiam informar onde se encontrava cada verso.

 A elite de Roma, preguiçosa de estudar porém ávida para ostentar erudição superficial, essa elite comprava esses escravos, que eram os mais caros.

Quando tal elite promovia banquetes e festas, os ricos esnobes mantinham  tais  escravos por perto. Assim, quando um elitista pedante  queria esnobar conhecimento citando alguma passagem dos poetas e literatos, ele chamava o escravo do qual ele era o dono e perguntava  no ouvido dele onde ficava tal passagem da obra, recebendo então a informação do escravo ( que a cochichava em seu ouvido , dando   a “cola”).

Os convivas de tal elite esnobe aceitavam esse  expediente hediondo  com naturalidade, uma vez que os escravos não eram vistos como seres humanos, mas como um instrumento a serviço de seu dono.

Por razões políticas que escapavam à sua vontade, ainda muito jovem Epicteto foi feito escravo em Roma. Inclusive, seu nome verdadeiro não é “Epicteto”, que significa “comprado” ( pois ele foi comprado como escravo). Seu nome verdadeiro se perdeu, ninguém sabe. Porém , Epicteto adquiriu o nome de filósofo ao exercer seu pensar autônomo,  sem dono e algemas.

Em vez de ser decorador de textos e  servir de instrumento útil à elite  escravocrata, Epicteto estudou clandestinamente filosofia, fazendo desta um meio libertário a favor dos perseguidos e injustiçados .

Epicteto foi um dos primeiros filósofos a ensinar a igualdade não apenas entre os homens, mas sobretudo entre homens e mulheres. Foi exercendo o pensar contra toda forma de grilhões que Epicteto  se libertou , ao mesmo tempo libertando muitos, ontem e hoje .

Como já dito, ninguém sabe ao certo o nome de nascimento de Epicteto, porém todos reconhecem que ele deve receber o nome de pensador-filósofo, nome conquistado efetivamente por meio de  sua prática pedagógica emancipadora.

Não importa em qual área,  ninguém se educa e se autonomiza apenas decorando cartilhas que o poder obriga. Quem apenas decora informação é escravo e não pensa, sendo útil a alguém que o explora: ontem, a elite  romana; hoje, a visão instrumental/privatista  do ensino negadora da filosofia e submetida  ao poder imperial do “mercado”.

Pensar nada tem a ver com erudição pedante ou “decoreba” de textos .  Em Roma, era proibido aos escravos  interpretarem os textos , pois interpretação é atividade de um pensamento livre que , sem dúvida, se apoia em  textos, porém não está algemado neles servilmente.

Além disso, a autêntica interpretação, a que realmente autonomiza e educa, nunca é apenas interpretar textos, mas interpretar/ler, primeiramente , o mundo ( como ensina o educador Paulo Freire). Quem aprende a   interpretar crítica e criativamente o mundo faz dessa leitura a chave que abre algemas ( literais e simbólicas).




 



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