domingo, 8 de janeiro de 2023

universal concreto X universal abstrato

 

O fascismo e o autoritarismo sempre se apoiam em “universais abstratos”. Um universal abstrato é uma ideia vazia que nega a heterogeneidade real, ao mesmo tempo   colocando acima  de todos uma noção homogênea que serve de biombo ou máscara  que esconde a face do poder excludente.

 “Deus” , “pátria”  e  “família”, por exemplo, são “universais abstratos” que escamoteiam a intolerância a vivências distintas do sagrado, o ódio às etnias diversas  que compõem nossa nação e o preconceito às formas diferentes de conjugalidades amorosas.

O pensamento reacionário parte de um raciocínio de “quebra-cabeça” para pensar a sociedade: eles imaginam que cada grupo social diferente, que cada minoria, é como uma peça de um quebra-cabeça cujo lugar no “todo” deve obedecer a uma ordem que as submete a uma maioria branca, proprietária, cristã, heterossexual, conservadora, militarista, falocrática.

A lógica desse raciocínio de quebra-cabeça não é a combinatória pautada na  igualdade, mas a da submissão a uma  hierarquia  não democrática que tenta colocar as minorias sob o poder de uma  maioria que as nega , exclui e persegue. “Maioria”, aqui, não é ser em maior número, e sim querer ser padrão.

O sonho de todo fascista é transformar a sociedade num quebra-cabeça submetido  a uma ordem autoritária na qual as peças , à força combinadas , formem  a face do ditador. Hitler dizia : “Eu sou a face da Alemanha”.

O contrário dos “universais abstratos” é o “universal concreto”. Todo universal concreto é uma singularidade. O universal concreto não é um ego, pois o universal concreto, em suas palavras e ações,  expressa a força de muitos que com ele se identifica, mas sem perder cada um a sua diferença.

O universal  concreto não  é um universal vazio que se preenche e   dá visibilidade ao rosto autoritário ; ao contrário,  o universal concreto inclui a face daqueles que o poder excludente quer invisível.

O universal concreto expressa a potência da heterogeneidade social em sua riqueza inesgotável.

O universal abstrato tende a se confundir com o rosto do tirano querendo-se acima  de todos,  já o universal concreto , em sua singularidade, é sempre a imagem viva do rosto  plural do povo.




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