Os gregos tinham alguns nomes para a
alma. O mais famoso desses nomes é Psiquê. Mas a alma às vezes também era
chamada por outro nome : Pneuma ( “Spiritus”, em latim) . Pneuma
é “sopro” ou “brisa úmida”. Não qualquer sopro ou brisa,
mas a brisa úmida que vem do mar e vivifica o deserto. Pneuma é sopro da vida , diziam os gregos. Quando o recém-nascido sai do ventre
da mãe, ele sai como se estivesse em sono profundo, a vida nele ainda dorme. Não por acaso, os gregos
diziam que Hipnos, o deus do sono, é irmão gêmeo de Thânatos, o deus da morte. Essa
semelhança entre o sono e a morte fica
visível na criança que sai do ventre: ela não está morta, porém ainda não está
viva, ainda não respira. Até que o parteiro dá pequenas batidas no corpo da
criança para ela despertar pela primeira vez. Antes de abrir os olhos, a
criança se faz abertura para sorver o ar. Pois ela não respira esse ar
inaugural apenas com o nariz, ela o respira também com a boca, de tal modo que esse ar é seu
primeiro alimento, antes mesmo do leite materno. Esse primeiro ar não vai
apenas encher os pulmões, ele também acorda as células, as fibras, os nervos e o
coração; acorda também o cérebro e os neurônios para o seu primeiro pensar
desperto. Esse ar também imanta o sangue
e o faz circular. Quando a criança abre
pela primeira vez os olhos, o Pneuma se
torna igualmente olhar sobre o mundo, o mundo do qual proveio enquanto parte da
respiração da própria Gaia, a Terra. Pneuma é o ar que se aspira ou inspira, o ar
que se puxa para dentro para despertar e manter viva a vida . Enquanto Psiquê é
a alma sozinha, Pneuma é a alma enquanto sopro que forma com o corpo um único e
singular ser vivo. “Meditar” tem a mesma raiz de “medicar”, e talvez seja por
isso que as técnicas de cura meditativa consistem em fazer a gente prestar
atenção não exatamente na respiração mas
no Pneuma, para despertarmos como desperta , respirando, um recém-nascido . O Pneuma
também pode ser respirado de livros,
músicas, artes , enfim, de ideias libertárias. Pois se as ideias não contiverem Pneuma, tornam-se apenas abstração ressequida. E creio
ser esse o sentido do que disse Foucault: “Um pouco de possível senão sufoco”,
um pouco de Pneuma para não sucumbirmos a esse deserto que nos cerca.
“Queria transformar o vento.
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