Segundo o filósofo Heidegger, a essência
da técnica é diminuir as distâncias. A técnica visa tornar perto o distante. A
invenção do trem encurtou a distância entre as cidades. A invenção do avião diminuiu
a distância entre os países. O telefone diminuiu a distância entre as pessoas.
Heidegger não viu o surgimento da internet, mas certamente veria nesse fruto da
técnica a mais evidente comprovação de suas teses.
Mas a distância vencida pela técnica é
uma distância espacial separando lugares. A lógica da técnica é a
da contiguidade espacial. Heidegger argumenta que nem todo vencer uma distância
significa proximidade. A proximidade não é diminuição de distâncias, mas
aproximação. Uma aproximação como exercício de proximidade nunca é totalmente vencer apenas uma distância física. Posso ir ao Louvre e ficar perto das mais emblemáticas obras de arte, porém em nada serei afetado por elas se eu, antes, já não tiver me aproximado da arte, de sua questão e problema.É a proximidade com a liberdade de criação que me dará um gosto. Essa proximidade é uma aproximação que faço em relação à minha própria sensibilidade. A diminuição das distâncias é feita pela técnica, ao passo que a
proximidade somente pode ser feita por um ser que exista, que pense e que sinta. A proximidade somente pode ser feita por nós
mesmos.
Um telescópio diminui a distância
entre a lua e nossos olhos, sem dúvida; porém um poema sobre a lua, ou mesmo
uma música, pode nos fazer sentir mais vivamente o mistério da existência da
lua, e dele nos colocar próximos, do que o mais potente telescópio é capaz de
fazer. O poema não nos aproxima da lua
física , o poema nos torna próximos de uma lua inventada, mas que tanta realidade tem. O poema é o caminho através do qual avançamos para nos tornar próximos do mistério da lua : para assim , quem sabe, nos tornarmos próximos do mistério que somos nós mesmos para nós mesmos.E o bom é que vamos cantando...
Essa proximidade assim nascida não é física. Ela
é uma proximidade de sentido e afeto. A tecnologia diminui as distâncias, porém
ela nada pode em termos de nos provocar a proximidade com as coisas inúteis e
gratuitas, como é a lua que descobrimos existir também em nós : quanto mais próximos estamos dela, mais estamos de nós.
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