quarta-feira, 2 de novembro de 2022

futuro ancestral, vanguarda primitiva

 

A flor do ipê é uma das poucas que floresce colorida durante todo o ano, resistindo até mesmo ao cinza do inverno. A flor do ipê assim nos mostra que é possível ser forte e resistente sem perder a arte de criar beleza.

Antes de os colonizadores aqui chegarem, nossos povos originários acreditavam que o ipê era a própria expressão da força fértil de Pindorama, nossa Terra-Mãe ancestral . Na mitologia tupi-guarani, um dos sentidos de Pindorama é: “terra onde os maus são vencidos”.

As flores do ipê são sempre de cores múltiplas, combinando o púrpura, o rosa, o branco e o amarelo . Os colonizadores tentaram acabar com o ipê, porém não conseguiram. Então, descobriram que podiam ganhar dinheiro sangrando uma árvore chamada pau-brasil, cuja resina avermelhada corre no tronco da árvore como em nossas veias o sangue.

Foi a partir do comércio dessa resina cor de sangue que a terra explorada ganhou novo nome, sendo então chamada de “Brasil” pelos seus algozes.

Na boca dos pseudonacionalistas  teofascistas de hoje , “Brasil”  continua sendo  o nome da vítima colonizada  que eles querem continuar a dominar  para   fazerem sangrar, no corpo e na alma,  literal e simbolicamente.

Devemos aprender com a autêntica independência perseverante dos ipês de Pindorama, que resistem florescendo como vivas bandeiras pintadas pela própria natureza em púrpura, rosa, branco e amarelo.

É preciso reinventar o Brasil. E já está aqui mesmo em nossa terra o que deve nos servir de inspiração para essa refundação. O pensador indígena Krenak assim chama essa necessária refundação: “Futuro Ancestral”.

O poeta Manoel de Barros diz o mesmo quando ensina  que  é preciso  se aproximar da “Origem que renova”:

“Tenho em mim um sentimento de aldeia e dos primórdios. Eu não caminho para o fim, eu caminho para as origens. Não sei se isso é um gosto literário ou uma coisa genética. Procurei sempre chegar ao criançamento das palavras. O conceito de Vanguarda Primitiva há de ser virtude da minha fascinação pelo primitivo. Essa fascinação me levou a conhecer melhor os indígenas.” (Manoel de Barros)


( imagem: o novo livro de Krenak)



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