sábado, 18 de setembro de 2021

centenário de Paulo Freire

 

Amanhã será o centenário  do pensador da educação Paulo Freire. Alguns se referem ao “método Paulo Freire” como se fosse uma  técnica. Mas as expressões “técnica” e “método” não se aplicam adequadamente à práxis pedagógica de Paulo Freire. Pois “técnica” e “método” são meios para aplicação de fórmulas , ao passo que a prática de Paulo Freire é uma poética da autonomia , isto é, um processo de  singularização que nunca pode ser reduzido a uma fórmula ou padrão , pois fórmulas e padrões são  instrumentos de um poder que desautonomiza.

A poética educacional de Paulo Freire dialoga também com Espinosa. Ambos convergem no seguinte ponto:  o educador que deseja ensinar deve, antes de tudo, compreender que o aprender vem antes do ensinar.

Assim, o autêntico educador deve conhecer seus educandos não como objeto, e sim como agentes que dão sentido ao mundo em que vivem. O educador deve buscar conhecer a comunidade onde vivem seus educandos, e daí extrair as palavras que , em potência, trazem aquela comunidade e  a expressam.

Essas palavras são chamadas por Paulo Freire de "palavras geradoras". Essas palavras não valem apenas pelo aspecto formal-linguístico, pois elas são potências geradoras de sentidos nascidos das práticas concretas.

As palavras geradoras geram outras palavras que, virtualmente, vivem dentro delas. Não são palavras de dicionário ou livro, são palavras que o próprio educando fala, com as quais   dá sentido ao seu mundo.  

A poética freireana auxilia o educando a partejar as outras palavras que vivem na imanência da palavra geradora. Com isso, é a própria mente do educando que também aprende com a palavra que sua fala já dizia, palavra essa que , desdobrada, também revela a riqueza de seu mundo. Não riqueza medida em dinheiro, mas riqueza que se expressa no conhecimento que autonomiza.

As palavras geradoras, palavras-potências, desenvolvem e explicam o sentido que nelas está implicado. E esse sentido não é apenas o de uma palavra, mas do mundo no qual se produz um  modo de vida. No caso da alfabetização de adultos, as palavras geradoras atestam que, mesmo sem saber ler as palavras, aqueles que as produziram já sabiam ler o mundo.

“Geradora”, “generosidade” e “gente” são palavras com a mesma raiz semântica. Por isso, palavra geradora é palavra generosa que nos potencializa como gente, tanto ao que ensina quanto ao que aprende.

O contrário da educação potencializadora   é o “ensino bancário”, no qual o conhecimento é “depositado” pelo professor no aluno como se este fosse uma conta que precisa dar lucro. É um modelo quantitativista, tecnocrata e mercadológico do conhecimento, no qual o aluno é tratado como coisa, não como gente . O ensino  bancário reproduz a  lógica do dinheiro e seu poder concentrador e excludente.

As palavra geradoras não pertencem a cartilhas, elas pertencem às falas populares que o poder dominante cala ou não deixa  que sejam  ouvidas.

 

"A justiça social tem que vir antes da caridade.” (Paulo Freire)

“Aprendo com o povo sintaxes tortas.” ( Manoel de Barros)




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