quarta-feira, 31 de março de 2021

arte e história

 

Assim nasceram as artes: Zeus , a divindade que simboliza a ética e a justiça, venceu em luta as forças da barbárie. Porém, Zeus percebeu que não bastava vencer as forças da  barbárie  naquele presente apenas , era preciso criar uma memória de que se é possível  vencê-las novamente, pois há sempre o risco dessas forças da barbárie  retornarem  de seus bueiros e trevas, reaparecendo disfarçadas com  outros nomes, em outros tempos históricos ( como reapareceram  na Itália fascista, na Alemanha nazista, nas ditaduras militares  da América Latina e suas versões milicianas... ).

Então, Zeus esposou Mnemosyne, a divindade que simboliza a memória. Zeus queria, agenciado com Mnemosyne,  criar uma memória da ética , uma ética da memória, para assim co-memorar , criar memória, de que se é possível vencer a barbárie . Desse amor entre a ética e a memória nasceram então as nove Musas, cada uma simbolizando uma arte. “Musa” significa: “conhecimento por intermédio das artes”, isto é, um conhecimento que nasce quando se desperta a sensibilidade à ética, à justiça, ao conhecimento, à criatividade e à coragem. Pois arte não é distração ou passatempo, arte é a expressão de uma vitória da potência libertária sobre as forças da barbárie. Arte é educação, incluindo a educação política. Uma das Musas se chamava “Clio”, e simbolizava a História. Pois a História existe como arte a serviço do não esquecimento do passado. Quanto mais um povo esquece seu passado, ou não o compreende, mais as forças da barbárie tiram proveito dessa ignorância e reaparecem como se fossem uma “moral ” ,  “religião” ou “política” novas. Mas se a gente raspar as máscaras sob as quais se escondem esses aproveitadores, veremos o mesmo velho e sinistro rosto sujo de sangue dos que ,ao longo da história, ameaçaram de morte  a ética, as artes, o conhecimento, a liberdade, a educação, enfim, a vida.

O lugar no qual as Musas habitam  se chama “Museu”. Um autêntico Museu, portanto,  nada tem a ver com um  depósito de coisas mortas .  Um autêntico Museu guarda,  protege e co-memora as lutas travadas no passado, lutas essas  que hoje  devem nos inspirar para as urgentes  lutas do presente. São lutas assim que guarda o Museu da Maré ( onde vive o acervo da luta de Marielle) e o Museu Histórico de Bacurau, museu-arquetípico de um Brasil que é muito maior do que o “brazil militarista-miliciano”  cultuador de  armas. No Museu Histórico de Bacurau ainda vivem Zumbi, Dandara, Virgulino, Carolina de Jesus, Lima Barreto, Glauber, Cartola, Luísa Mahin...Pois o  principal  patrimônio desse Museu não é o passado, e sim um futuro que ainda nem nasceu. Um   futuro buscado por aqueles que por ele lutaram , e que  devem nos inspirar na luta presente  contra as  forças obscurantistas que nos ameaçam com o retorno de um passado de tortura, censura e medo.

 

“A arte não é um espelho do mundo, mas um martelo para forjá-lo”. (Maiakovski)

“Poesia pode ser que seja fazer outro mundo”. (Manoel de Barros)















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