quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

roda viva

 

Quando eu fazia o antigo ginásio ( eu devia ter  10 ou 11 anos), a ditadura militar ainda dominava tudo com mão de ferro. Mas uma querida professora de Língua & Literatura conseguiu, apesar da censura e treva dominantes no país, essa querida professora conseguiu nos despertar para o pensamento crítico e criativo, adotando um livro que trazia letras de música para a gente ler e interpretar, eram letras que faziam sentir e pensar. Foi nesse livro que conheci a letra de canções  como "Janelas abertas nº 2" ,  "Construção" e  “Roda Viva” , antes de ouvi-las  tempos depois na voz dos cantores e cantoras. Canções   assim eram censuradas pelos sisudos milicos, que sempre me pareceram um tipo de ser que detesta música que faz a gente cantar junto.  Os milicos diziam , em tom de ameaça, que músicas assim  eram "subversivas" ( e eu, até ali, não entendia muito bem o que significava "subversivo"...). Então, foi como poesia que conheci essas letras. Na primeira vez que li essas letras-poemas naquela sala de aula de uma escola pública no subúrbio carioca, graças à resistência perseverante de minha querida professora, dentro de minha  cabeça aconteceu o que Deleuze chama de "noochoque" : um "choque de pensamento".

Foi a partir de então que a minha "pequena voz interior" , que ficava muda imaginando-se  sozinha naquele mundo de gente autoritária , essa minha voz encontrou na voz poética e pensante daquelas músicas o sentido e a força para cantar junto.  Foi ali que me entendi também  como um subversivo .

 

“Descanse  tranquilo onde cantam,

os maus não cantam. ” (Schiller)

 

“Poesia é subversão da linguagem.” (Manoel de Barros)






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