sábado, 12 de dezembro de 2020

o anel de giges

 

Há um livro de Platão no qual ele narra a história de um anel que tinha o poder  de deixar seu portador “invisível”  aos olhos dos outros. Trata-se do “Anel de Giges”. Mas o sentido simbólico dessa história é mais do que o mero se tornar invisível fisicamente. Pois não era apenas seu portador que desaparecia fisicamente frente ao olhar do outro, era o outro também ( enquanto valor ético e político) que desaparecia para o portador do anel.  A posse de tal anel se tornava uma prova ética e política para saber o que alguém pensava realmente do outro , das regras e  do elo social. Muitos aproveitavam a invisibilidade provocada pelo anel para dar vazão a seus impulsos bárbaros : furtavam, roubavam, torturavam e  ofendiam  os outros. Creio que essa história do Anel de Giges simboliza também o que propaga o  discurso fascista: deixar o fascista “invisível” aos olhos dos  valores éticos e democráticos, para  que seu comportamento não se paute mais pelas regras que organizam , democraticamente, a visibilidade política. Não havendo mais regras que o freiem, tendo-se furtado aos valores que visibilizavam o conviver democrático,  o fascista imagina que ser livre é não ter mais barreiras éticas , jurídicas e políticas para destruir o outro. Se ele tiver o poder do Estado, usará esse mesmo poder para se imaginar invisível e assim favorecer seus parentes e amigos, além de perseguir seus adversários. Na verdade, o Anel de Giges não ocultava quem o colocava; ao contrário,    ele tornava público, política e eticamente,  o que cada um traz dentro de si: se saúde ou doença, se amizade ou ódio, se vida ou morte, se humanidade ou barbárie.

( o livro da Hannah Arendt é apenas uma sugestão de leitura)





Nenhum comentário:

Postar um comentário