Há um livro de Platão no qual ele
narra a história de um anel que tinha o poder
de deixar seu portador “invisível”
aos olhos dos outros. Trata-se do “Anel de Giges”. Mas o sentido
simbólico dessa história é mais do que o mero se tornar invisível fisicamente.
Pois não era apenas seu portador que desaparecia fisicamente frente ao olhar do
outro, era o outro também ( enquanto valor ético e político) que desaparecia
para o portador do anel. A posse de tal
anel se tornava uma prova ética e política para saber o que alguém pensava
realmente do outro , das regras e do elo
social. Muitos aproveitavam a invisibilidade provocada pelo anel para dar vazão
a seus impulsos bárbaros : furtavam, roubavam, torturavam e ofendiam
os outros. Creio que essa história do Anel de Giges simboliza também o
que propaga o discurso fascista: deixar
o fascista “invisível” aos olhos dos
valores éticos e democráticos, para
que seu comportamento não se paute mais pelas regras que organizam ,
democraticamente, a visibilidade política. Não havendo mais regras que o
freiem, tendo-se furtado aos valores que visibilizavam o conviver
democrático, o fascista imagina que ser
livre é não ter mais barreiras éticas , jurídicas e políticas para destruir o
outro. Se ele tiver o poder do Estado, usará esse mesmo poder para se imaginar invisível
e assim favorecer seus parentes e amigos, além de perseguir seus adversários. Na
verdade, o Anel de Giges não ocultava quem o colocava; ao contrário, ele tornava público, política e
eticamente, o que cada um traz dentro de
si: se saúde ou doença, se amizade ou ódio, se vida ou morte, se humanidade ou
barbárie.
( o livro da Hannah Arendt é apenas
uma sugestão de leitura)
Nenhum comentário:
Postar um comentário