quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

centenário de clarice

 

Dia desses li a notícia de que  o governo norte-americano comemorava um acordo de  redução das bombas atômicas existentes no mundo. Antes do tal acordo, as bombas atômicas tinham capacidade para destruir a terra 12 vezes!!!! Agora, após o acordo, o poder de destruição das bombas  “caiu” : elas agora podem destruir o planeta “apenas”  5 vezes!!! E o governo norte-americano comemorava alegremente isso como prova de que são civilizados... Isso me lembrou Espinosa, que dizia existir uma estranha alegria :a alegria dos delirantes se imaginando sensatos.... No mesmo jornal , na seção de economia, havia outra notícia envolvendo essa  mesma mentalidade  insana :  a quantidade de capital especulativo circulando pelo planeta é cinco vezes maior do que a riqueza real que existe na terra. Capital não é riqueza. Riqueza é terra, trabalho, criatividade, floresta, tempo, enfim, vida. Riqueza também não é o número estampado na nota ou na moeda, riqueza é o níquel de que é feita a moeda e a árvore sem a qual não há  papel-moeda:  riqueza é o minério e a árvore como potência e bem comum da terra, da qual ninguém é o proprietário ou dono. Aplica-se  aqui aquela  imagem : a riqueza é  sangue, ao passo que o capital especulativo financeiro se assemelha mais a um vampiro. Esses vampiros  sobrevoam a terra como aves de rapina  de olho nas florestas, nos rios, nos minerais...e também em nosso tempo, em nosso desejo, em nosso corpo, enfim, em nossa vida e sangue. Enquanto as bombas podem destruir  a terra 5 vezes, o capital predatório é vampiro que quer sugar nosso sangue cinco vezes mais do que todo o sangue que circula em nosso corpo.  Essas  notícias   também me lembraram aquela crônica de Clarice Lispector na qual ela narra a morte de um procurado pela polícia “abatido” , diria o protofascista Witzel,  por vários tiros disparados pelas forças repressivas: “ a primeira bala já o acertou e matou. A segunda bala foi por vingança, a terceira por preconceito, a quarta por ódio aos pobres, a quinta por pura barbárie mesmo ...e a última bala me acertou”.

Contra os vampiros,  sangue nas veias , ideias na mente e ação coletiva  que mude uma situação.









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