Segundo o poeta Manoel de Barros, há
na poesia uma didática. Não uma didática para nos ensinar cartilhas . A
didática que a poesia ensina é uma “didática da invenção”. Ensinar a inventar e
criar para não sucumbirmos à resignação e ao medo , essa é a lição de tal
didática, lição para aprendermos a nos refazermos. Manoel diz que aprendeu essa
didática não em livros , ele a aprendeu com um menino: "inventei um menino
levado da breca para me ser”. O poeta inventou um menino para sê-lo: e é o
próprio menino inventado que ensina a Manoel como (re)inventar-se. Esse menino,
diz o poeta, é “a criança que me escreve”. Essa criança lúdico-poética não é
uma idade , ela é a própria potência da vida em seu “minadouro” e novidade.
Para que não nos domine a “velhez” , o poeta nos convida para os seus
“exercícios de ser criança”. “Velhez” , segundo o poeta, também não é uma
idade, “velhez” é uma forma de mentalidade refém do “mesmal”. Na vida, os
exercícios de ser criança consistem em soltar e dar linha na pipa , atirar com
estilingue nas latas, jogar bola na rua , muitas vezes tendo que driblar a
repressão dos guardas . Os exercícios são as “peraltagens” de que são capazes
as crianças. É preciso aprender a fazer essas peraltagens com as palavras, para
elas serem para nossa liberdade o que a linha é para a pipa: linha de fuga. Que
nossas palavras também aprendam a driblar as significações dominantes e seus
guardas. Enfim , inventar com as palavras uma lúdica arma, um simbólico
estilingue, uma arma para fazer viver e não para matar, apontada contra a
velhez dos reaças.
“O homem seria metafisicamente grande
se a criança fosse seu mestre. ” (Kierkegaard)
- trecho do poema de Manoel:
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