segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

artigo: a clínica de manoel


trecho do artigo:                     

            MANOEL DE BARROS: A EMPOÉTICA TERAPÊUTICA
                                                         
                                                                                               Elton Luiz Leite de Souza[1]


RESUMO: A poesia de Manoel de Barros é mais do que uma poética, ela é uma empoética. Sua terapia literária enseja uma terapêutica da linguagem e de nós mesmos, empoemando-nos. Empoemar-se é estender o poético para além dos meros versos, e é isso que faz Manoel em sua obra, incluindo entrevistas, cartas e mesmo seus desenhos. São esses os componentes de sua Oficina de Transfazer Natureza, para assim inventar comportamento.
PALAVRAS-CHAVE: Manoel de Barros; Poesia; Empoética.


1. Introdução: a Oficina de Transfazer
A literatura é uma saúde.
Gilles Deleuze

Manoel de Barros define sua poesia como Uma Oficina de Transfazer Natureza”[2].  Toda oficina é um lugar de “fazimentos”, de “inventar comportamento”[3]. Nessa Oficina há várias ferramentas, ferramentas simbólicas, semióticas, lúdicas. Queremos falar de uma ferramenta em especial. Manoel constrói e reconstrói inúmeras coisas com ela. Trata-se não de uma palavra, mas de uma “pré-palavra”: o prefixo “trans”. O pré-fixo é o que vem antes de algo fixo, pronto, fechado. “Fixo”, “acostumado”, é o significado que o uso enrijece: “significar reduz novos sonhos para as palavras”[4] .  Mais do que uma lógica, uma Oficina do Sentido: “Na ponta do meu lápis / Há apenas nascimento”.[5]
O “trans” é uma ferramenta da oficina poético-filosófica do artesão Manoel. Não é a gramática que pode explicar o emprego em Manoel de tal prefixo, apenas uma agramática o pode:

Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que  empoema  o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos,
um  inauguramento  de falas.[6]

 No poema acima, Manoel nos ensina, brincativamente [7], a principal lição de sua Oficina:  o empoemar como atividade que aqui chamaremos de empoética. Esta é a hipótese que sustenta tudo o que queremos aqui dizer: toda a poesia de Manoel é uma empoética, e dessa empoética também fazem parte as entrevistas e mesmo sua correspondência.
Essa empoética também é expressa por outros meios sem ser a palavra, tal como se vê nos desenhos muito originais e singulares que o próprio poeta engenha. E mais: os livros nascem em cadernos artesanais que o poeta confecciona à mão. Também é parte de sua empoética essa sua artesania.          




[1] Filósofo, Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio); autor do livro Manoel de Barros: a poética do deslimite (Editora 7letras/Faperj); publicou também   artigos sobre a obra de Manoel de Barros. Organizador de publicação em homenagem ao centenário do poeta: Poesia pode ser que seja fazer outro mundo, Editora 7letras (no prelo).
[2] O guardador de águas, p. 20.
[3] “Comportamento”, Ensaios fotográficos, p. 65.
[4] Escritos em verbal de ave.
[5] Encontros: Manoel de Barros. Rio de Janeiro, Azougue, 2010(Org. Adalberto Müller), p. 135.
[6] “Retrato quase apagado em que se pode ver perfeitamente nada”, Guardador de águas, p. 62.
[7] Escritos em verbal de ave. São Paulo: Leya, 2011.




- link para artigo completo:

http://websensors.net.br/seer/index.php/guavira/search/authors/view?firstName=Elton%20Luiz&middleName=Leite%20de&lastName=SOUZA%20%28UniRio%29&affiliation=Fil%C3%B3sofo%2C%20Professor%20Adjunto%20da%20Universidade%20Federal%20do%20Estado%20do%20Rio%20de%20Janeiro%20%28UniRio%29&country=BR

Nenhum comentário:

Postar um comentário