domingo, 1 de dezembro de 2019

a pintura de espinosa


Se a gente olha um quadro de muito perto, vemos apenas as tintas, as pinceladas, as texturas e tudo aquilo que nasceu do movimento do pincel. Mas  se nos afastarmos um pouco  e olharmos para a tela,  vemos enfim a paisagem que o artista criou. Quando olhamos de perto, a paisagem “desaparece” para nossos olhos, porém não das tintas. Paisagem e tintas são, no quadro, uma única realidade vista de duas perspectivas diferentes. Assim são, segundo Espinosa, o corpo e a alma:  as tintas e as paisagens que somos. Se o artista  altera o tom de uma tinta, também altera , ao mesmo tempo, o sentido da paisagem. As árvores pintadas, os verdes das plantas, o amarelo do sol, todas as ideias expressas no quadro enfim, estão conectadas tais como estão conectadas as tintas no espaço do quadro. Alguém poderia perguntar a Espinosa: “E se depois de estarmos bem perto e vermos as tintas começarmos a nos afastar lentamente, haverá um momento em que veremos a paisagem nascendo antes de as tintas morrerem para nossos olhos? Seria possível vermos as tintas e a paisagem  como realidades diferentes antes de elas se tornarem uma única realidade?” Talvez Espinosa respondesse assim:  “Quando olhamos o quadro o fazemos com os olhos do nosso corpo, que é ´parte da matéria-tinta que somos, olhos estes que são os olhos mesmos da alma enquanto expressão da paisagem que somos. A unidade não nasce de fazermos a paisagem ser superior às tintas, pois a autêntica unidade está no artista: é ele o produtor da paisagem enquanto alma das tintas, e das tintas enquanto corpo da paisagem. A unidade que somos, unidade de tintas e paisagem, corpo e alma, está  no artista do qual somos a obra de arte”. Este artista não é nosso ego, mas a Natureza Infinita, a qual Espinosa chama de Natura Naturante: a Pintura Absoluta.




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