terça-feira, 16 de julho de 2019

o fundo obscuro


“Moral” não é a mesma coisa que “Ética”. “Moral” vem do latim “mores”, “costume”. “Ética” procede do grego “ethos”, que tinha um duplo sentido, e é aqui que reside a confusão..."Ethos” significava tanto “virtude” ( ou “caráter” ) quanto “costume”. A diferença entre um sentido e outro era dada pela forma de se pronunciar o “e” de “ethos”: se aberto , significava  “caráter” e “virtude” ; se  fechado,  “costume” ( a diferença era assinalada por um determinado sinal sobre a letra) .“Virtude” vem de “vis”: “força”. Não a força física, mas a força potencial. Essa palavra aparece no poeta  Homero ao falar da força que nasce da corda tensa do arco:  é graças a essa tensão, ou potência, que o arco pode lançar as flechas longe. “In-tenso”: “ir para dentro da tensão”. É essa mesma tensão vital  que faz as fibras do coração  impulsionarem  o sangue que dá vida . Uma alma ética   não é uma alma passiva ou cordata. Uma alma de caráter possui intensidade para lançar suas palavras e ações longe, servindo de exemplo para vencermos as baixezas que nos ameaçam de perto. Chegam até  nós, vivas e como flechas, as palavras de Espinosa  , as ideias de Deleuze, a poesia de Manoel,  lançadas que foram de um pensar e viver  intensamente libertários .
Na Idade Média , traduziu-se  “ethos” apenas por “costume”, nascendo assim a “moral”. Enquanto a virtude-potência é a força da alma/corpo  intensos, o costume é um valor sedentário a serviço de um grupo. E é por isso que a moral  é sempre “conservadora” ,  e sob a máscara do “moralismo”   muitas vezes se escondem indivíduos sem  um pingo de caráter, como  lobo escondido sob pele de cordeiro para se aproveitar dos rebanhos.  

(as imagens às vezes  também são  “atos falhos”: na foto de uma "palestra" do Srº Dallagnol, a palavra “ética” parece ser só uma fachada  apagada atrás da qual há um fundo obscuro)





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