domingo, 26 de maio de 2019

os jardins de epicuro


Há três modelos de educação: a Academia, o Liceu e os Jardins. Foi Platão quem inventou a Academia. Na porta da Academia Platão afixou a seguinte placa: “Só pode entrar  aqui quem for geômetra”. Assim, na Academia de Platão  somente eram ensinadas coisas  exatas: fórmulas, dogmas, gramáticas . Os poetas  eram proibidos de entrar lá. Já  o Liceu é obra de Aristóteles. Este queria mostrar que há ordem não apenas na matemática, a ordem também existe na própria  natureza. Para provar isso, Aristóteles  recolhia flores de uma  mesma espécie e dizia: “apesar de cada indivíduo ser diferente, todos nasceram de um mesmo molde : tudo o que existe se explica por uma Identidade-Padrão". Quando um aluno mais curioso ia explorar o mundo e  aparecia com uma flor diferente, uma  flor única e rara, Aristóteles mandava jogar a flor fora, alegando que a diferença é um erro da natureza que nos afasta da Razão. Foi Epicuro que aprendeu a fazer dos jardins salas de aula:    como espaço aberto à   natureza multivariada. E as flores  diferentes que a  Razão homogeneizante  desprezava ,  Epicuro as acolhia em seu jardim, as plantava e regava.  Ao invés de tabuada e gramática, cantos e cores. No lugar de moral e cívica, ética e artes .  Não apenas a alma  dizia “presente” na hora da chamada, também  dizia “presente” o corpo, com a vida intensificada. A ideia de “jardim” sobreviveu ao tempo e às perseguições ,  e sua semente ainda vive  nos nossos  “jardins de infância”.  Havia  algo da infância nos jardins de Epicuro, como (re)invenção de um  devir-criança , feito a “não velhez” do poeta Manoel de Barros . Hoje, a academia se tornou sinônimo de universidade, isso é fato. Os fascistas querem que  nela se ensinem apenas cartilhas e tabuadas, ordens exatas que adestrem para o “mercado”. A universidade é  composta de bibliotecas ,  laboratórios , refeitórios, isto é, coisas físicas,  e mais os educadores e estudantes, a sua parte viva.  Quando educadores e estudantes se unem para proteger e  intensificar essa vida, mostrando ao povo  que o saber ali produzido também faz parte de sua vida,  a universidade então sai dos muros da academia, ganha praças e ruas, e se torna novamente Jardim de Epicuro: conhecimento unido à vida.





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