Zaratustra vinha por uma estrada e
parou debaixo de um portal. No portal estava escrita a seguinte palavra: “Presente”. Zaratustra então pensou: “do
portal para trás fica a estrada chamada ‘Passado’, foi dela que vim. Do portal
para frente fica a estrada chamada ‘Futuro’: é dela que virá o chão novo onde
nunca pisei. Mas a estrada chamada Passado não começou com meus passos, ela já
existia antes de eu nascer e começar a andar. Por muito que eu tenha caminhado ,
também há no Passado um chão onde nunca pisei. Será que as duas extremidades da
estrada chamada Tempo, a que vai para trás e a que vai para frente, será que essas
extremidades estão unidas formando um círculo? Será o tempo um carrossel infinito?
Tudo o que pode criar pernas e caminhar
tem que percorrer essa estrada: não apenas gentes, mas igualmente sociedades
e até as galáxias. É na estrada do tempo
que os seres surgem, duram e depois
acabam, tornando-se então passado, aquém do Presente. Porém está sempre a nascer a parte da estrada que começa depois do
Presente: podem morrer nossos passos, ruírem
as sociedades , apagarem-se as galáxias, mas nunca chega ao fim a estrada. Por mais que seja longo o caminho já trilhado, a estrada
antecede todo caminhar e também surge à
frente , como trilha nova ainda a ser trilhada”.
Sempre haverá um antes que nunca foi
pisado, um antes anterior a toda memória, bem como um depois muito além do que
podem alcançar a crédula esperança ou a razão e sua história. Talvez o andarilho-artista
, com seus horizontamentos, saiba se
aproximar deste infinito enigma: no carrossel do tempo a girar,
a estrada anterior aos nossos
passos é a mesma que como futuro chega para que possamos avançar,
se pernas criarmos que ousem novos
passos.
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