domingo, 21 de outubro de 2018

sofia e o general...


É impossível "chover para cima", ou as ondas nascerem na margem da praia e irem para o horizonte. Sabemos que é impossível acontecerem essas coisas porque compreendemos o que é natural acontecer: é natural a chuva vir de cima, é natural as ondas se formarem no horizonte e chegarem à praia. Sabemos da impossibilidade de “chover para cima” porque sabemos, primeiro, qual é a realidade da chuva, a sua maneira de ser. É conhecendo a realidade de alguma coisa que podemos saber de sua impossibilidade e , também, de suas possibilidades. Se sei que a realidade natural da chuva é cair do céu, antes que ela de fato caia penso sua possibilidade e me preparo :busco um guarda-chuva, limpo a calha ou ponho a planta na janela para ser molhada. Mas aquele que não conhece a realidade natural das coisas, volta e meia delira impossibilidades como se fossem possibilidades que sua imaginação crê serem mais reais do que a própria realidade que a ciência e a filosofia nos fazem compreender. Porém , é apenas na imaginação e na linguagem que a chuva pode “chover para cima”: se for em um poema, é apenas verso; mas se for em uma mente ignorante e supersticiosa, tal ideia confusa torna-se um perigo contra a própria existência, se os portadores de tal mente delirante se apossarem do Estado e da educação das crianças. Quando Espinosa dizia que “a democracia é o mais natural dos regimes”, ele quis fazer uma imagem semelhante àquela da chuva. Assim , é natural o homem ser livre e rebelar-se , cedo ou tarde, contra aqueles que vão contra essa sua natureza democrática. Os que combatem essa natureza democrática também combaterão a ciência, a filosofia e a liberdade de agir e pensar , pois ciência, filosofia e liberdade de pensamento são expressões daquela natureza democrática do homem e nos permitem compreendê-la e efetuá-la. Quando Espinosa afirma que "a democracia é o regime mais natural", não há otimismo nisso, tampouco idealismo. É a compreensão de uma necessidade semelhante àquela que faz a chuva vir do céu. Nesse sentido, democracia não é só voto, partido, parlamento. Democracia é, e sempre será, re-existência: religar o homem à existência, resistir pela existência, potencializando-a .





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