De Platão a Deleuze, o filósofo é definido não
apenas como aquele que estuda conceitos. O filósofo também é, sobretudo, aquele
que exerce um afeto: a amizade ( “philo”, em grego). Não existe filósofo sem o
exercício da amizade. Não exatamente a amizade pessoal, aquela que pode ser
desfeita e virar seu contrário. Este é o desafio do filósofo: aconteça o que
aconteça, manter viva essa amizade que o mantém vivo como filósofo. Essa
amizade não pode ser desfeita sem que seja desfeita a própria condição de
filósofo. O filósofo exerce essa amizade despertando-a nos outros. Não uma
amizade a ele, mas uma amizade ao pensamento, ao questionamento, à liberdade.
Sempre uma amizade, nunca um ódio. Não há filósofo sem o despertar de tais
afetos nos outros. No entanto, também não é autêntico filósofo quem desperta a
amizade de todo mundo a ele. Filósofo que desperta a amizade de fascistas, de
tolos, do mercado, enfim, do sistema, não sei se alguém assim é filósofo, mesmo
que tenha se formado em uma faculdade de filosofia e se diga tal. Creio que o
filósofo também é aquele que desperta em uns a vontade de lhe dar cicuta. Não
que o filósofo queira isso, mas essa pode ser a consequência de ele despertar a
amizade à liberdade , incomodando aqueles que tem ódio a ela. Na época de
Sócrates, cicuta era um veneno. Hoje, a cicuta tem outros nomes...Que o diga o
vice do "coiso", que em entrevista disse que vai tirar a filosofia
dos jovens. Mas não se elimina a filosofia dos currículos sem eliminar, também,
os filósofos. E a maneira de matar o filósofo, bem como o pensador que vive em
cada um, é uma só, ontem e hoje: mais do que tirar-lhe o emprego e o pão, é
eliminar a liberdade da sociedade.
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