quinta-feira, 27 de setembro de 2018

a amizade


De Platão a Deleuze, o filósofo é definido não apenas como aquele que estuda conceitos. O filósofo também é, sobretudo, aquele que exerce um afeto: a amizade ( “philo”, em grego). Não existe filósofo sem o exercício da amizade. Não exatamente a amizade pessoal, aquela que pode ser desfeita e virar seu contrário. Este é o desafio do filósofo: aconteça o que aconteça, manter viva essa amizade que o mantém vivo como filósofo. Essa amizade não pode ser desfeita sem que seja desfeita a própria condição de filósofo. O filósofo exerce essa amizade despertando-a nos outros. Não uma amizade a ele, mas uma amizade ao pensamento, ao questionamento, à liberdade. Sempre uma amizade, nunca um ódio. Não há filósofo sem o despertar de tais afetos nos outros. No entanto, também não é autêntico filósofo quem desperta a amizade de todo mundo a ele. Filósofo que desperta a amizade de fascistas, de tolos, do mercado, enfim, do sistema, não sei se alguém assim é filósofo, mesmo que tenha se formado em uma faculdade de filosofia e se diga tal. Creio que o filósofo também é aquele que desperta em uns a vontade de lhe dar cicuta. Não que o filósofo queira isso, mas essa pode ser a consequência de ele despertar a amizade à liberdade , incomodando aqueles que tem ódio a ela. Na época de Sócrates, cicuta era um veneno. Hoje, a cicuta tem outros nomes...Que o diga o vice do "coiso", que em entrevista disse que vai tirar a filosofia dos jovens. Mas não se elimina a filosofia dos currículos sem eliminar, também, os filósofos. E a maneira de matar o filósofo, bem como o pensador que vive em cada um, é uma só, ontem e hoje: mais do que tirar-lhe o emprego e o pão, é eliminar a liberdade da sociedade.




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