domingo, 8 de julho de 2018

a celestina


"Lhasa" é o nome da cidade sagrada dos budistas do Tibet. Essa cidade fica bem no alto das montanhas mais altas do nosso planeta,e é  considerada a cidade  mais perto do céu . Não é uma "Cidade Celeste", como a de Santo Agostinho; mas é, entre as cidades terrestres, a mais próxima do celeste. Talvez, por isso, ouvir Lhasa se parece com   uma experiência de "celestamento" .Foi Manoel de Barros que inventou essa palavra-experiência, esse "empoemamento",  ao dizer: "Poesia é celestar as coisas do chão". Aliás, a própria Lhasa  tem uma música  chamada  "La Celestina"...




Soon This Space Will Be Too Small
(Em Breve Este Espaço Será Muito Pequeno/Lhasa de Sela )
                                                                                                                      
Em breve este espaço será muito pequeno,
e eu vou lá para fora,
para o enorme Iado de fora,
onde o vento selvagem sopra
e as estrelas frias brilham.

Vou colocar o meu pé
na estrada da vida
e ser levada daqui,
para o coração do mundo.

Eu vou ser forte como um navio
e sábia como uma escolha.
E eu vou dizer as três palavras,
isso vai nos salvar a todos
E eu vou dizer as três palavras,
isso vai nos salvar a todos

Em breve este espaço será muito pequeno.
E eu vou rir tanto,
que as paredes vão desmoronar.

Eu vou morrer três vezes
e nascer de novo
em uma pequena caixa
com uma chave de ouro.
E um peixe voador
vai me deixar livre.

Em breve este espaço será muito pequeno...
Todas as minhas veias e ossos
serão queimados a pó.
Você pode jogar-me em
uma panela de ferro preto
e a minha poeira vai dizer
o que o meu corpo não vai.

Em breve este espaço será muito pequeno
E eu vou lá para fora
E eu vou lá para fora
E eu vou lá para fora




A CELESTINA

                                  
Minha filha, fique comigo um pouco.
Por que anda arrastando esta miséria?
Espere um momento e te desamarro...
Mas em que bagunça se colocou, menina!

Quão amargos são os feitos que adivinhas!
Quão escura é a volta da sua memória!
E quanto à tua coroa de espinhos...
cai-te bem, mas a pagarás caro...

Com teu olhar de fera ofendida;
com teu curativo, onde não há ferida;
com teus gemidos de mãe sofrida,
espantarás tua última esperança.

Faça do teu punho algo carinhoso;
e do teu adeus um “Oh meu amor!”
E do teu semblante um sorriso;
 e da tua fuga um “Já vou! Já estou chegando!”

Minha filha, que pena me dá ver-te!
Deixando esquecido o teu corpo.
Muito inteligente, pobre boba, a se dedicar
à eterna dissecação de um pecadinho.

Mulher despe-te e fique calma:
a flecha te procura.
E é o homem, no fim, como sangria,
que às vezes dá saúde e às vezes mata...
E é o homem, no fim, como hemorragia,
que às vezes dá saúde e às vezes mata...


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