terça-feira, 15 de agosto de 2017

o nômade

Estou ao sul do norte,
ao norte do sul.
Lhasa

No passado, os filósofos expulsavam o poeta, o expulsavam de sua  própria  casa, doravante diziam ser propriedade deles, da razão. Tal casa era a linguagem, como lar do sentido,habitar do pensamento, oficina do mundo.
Então,  esqueciam o jardim, fechavam as janelas, não mais davam festas, tampouco ouviam música, apenas de pesados livros mobiliaram a casa. Silêncio somente, como no túmulo. Solidão, como a do  egoísta. Angústia, feito a do doente mortal. A casa virou asilo, caserna, e hoje imita a empresa. Expulsaram o espírito, ficando o cadáver da letra. Ouvem tais acadêmicos apenas seus próprios ecos, que se voltam contra eles, não transpondo as paredes.

O poeta sobreviveu, mesmo sem casa. Aprendeu a morar entre os índios, entre as crianças, entre os peixes, entre os pássaros, entre as gentes, entre as palavras. Nômade, assim também nos faz, se o deixarmos vir    morar em nós.

E quando é o próprio filósofo que é expulso e perseguido, como no caso de Espinosa ( tentaram proibir a leitura de seus escritos), são os poetas os primeiros a transgredirem tais perseguições ao pensamento: foram os poetas Heine, Goethe,Byron e Shelley os primeiros a reconhecerem em Espinosa o grande filósofo, antes mesmo que o pudessem reconhecer os próprios filósofos. 


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