Espinosa considera uma confusão da imaginação a ideia de que a liberdade
seja uma independência absoluta. Deus não é independente: ele depende de si
para causar sua própria existência. Esta é sua essência: depender de si como
causa eficiente. Os modos, enquanto graus dessa potência absoluta, também se
afirmam livres quando aquilo que fazem ou pensam depende de si para fazê-lo, e
não de outra coisa (entendendo essa outra coisa como um outro modo finito).
O
homem livre, potente, é aquele que depende o mais de si para fazer e pensar o
que lhe é apto. Ao aprenderem uma ideia, os alunos dependem do professor que os
educa. Não é apenas o professor que é ativo: os alunos também devem sê-lo, pois
o aprendizado da ideia depende do aumento da capacidade dos alunos para
compreendê-la.Do contrário, estarão apenas decorando, obedecendo e se anulando.A potência de pensar é imanente a cada aluno: não há como uma
ideia ser plenamente compreendida sem que esta potência seja despertada. Mais
do que passar ideias, o educador é aquele que afeta o aluno para o despertar
desta potência que está nele: quanto mais essa potência está desperta, mais o
aluno depende dele para compreender o que o professor ensinou. Educar não é
tornar o aluno dependente do professor, educar é tornar o aluno dependente o
mais possível de si mesmo e de sua capacidade de pensar e agir.
A existência humana é tal, porém, que
passamos boa parte de nossa vida dependendo dos outros: dos pais, dos
professores, etc.”Boa parte da vida” não significa a vida inteira. Quando nos
apossamos do nosso poder de agir e de pensar, apreendemos nossa vida inteira em
cada parte mínima dela , tornando-a boa, útil, alegre, amorosa, ativa, enfim,
de acordo consigo mesma.
Assim, começamos dependendo dos outros para nos
tornarmos aptos a dependermos de nós mesmos. Depende de nós sobretudo o sermos
nós mesmos, é um absurdo imaginar que isso depende dos outros. Seja lá
como for que se comporte o outro, tal comportamento não pode ser uma causa que
nos torna dependente dela, impedindo que nos tornemos nós mesmos.Enfim, quando conseguimos
nos tornamos nós mesmos, ou a isso nos esforçamos, compreendemos que era apenas
de nós que isso dependia, mesmo quando éramos crianças.Tornar-se si mesmo não
significa, porém, isolar-se como um todo à parte.Ao contrário, o si mesmo que
nos tornamos é um modo, um grau, do Si que é imanente a cada coisa, inclusive
daquelas de que dependíamos antes de compreendermos adequadamente o que depende
de nós mesmos.
Cada ser persevera para continuar na existência. Este perseverar é
exatamente o conatus, que é a Potência
da natureza expressa a partir de uma parte dela, parte esta que pode considerar
a si mesma seja como um todo à parte, o que faz nascer a condição passional, seja como
uma parte integrada a um todo do qual ela afirma também se afirmando, como uma expressão
singular.Neste último caso, o conatus é afirmado em conjunto com outros seres,
e não apenas afirmado em reação aos outros seres.Pois é isto o ego: afirmar-se a partir da negação dos outros.
Segundo a psicanálise, o "eu" emerge a partir da negação que ele faz dos pais . Nesse processo, a diferença é vista como uma negação originária:o eu nasce de se negar o outro ( os pais). Mas "quem" faz esse negar na criança? Para a psicanálise, não há ainda um "quem", mas já existe um negar, um negar de outro alguém. Para Espinosa, antes do eu existe o "si". O "si" não é o "eu" ( "ego").O eu nasce da interação imaginativa e imaginária com os outros, isso porque o eu é mais social do que ontológico, o eu não existe sem a fala e a imaginação que a sustenta. Em geral, os que mais acreditam no "eu" são os que mais tagarelam e falam, sobretudo falam de si mesmos.
O "si" não é uma negação originária, nenhuma negação pode ser originária. "Neg-ação": "negar uma ação". Toda negação é secundária, primeiro é preciso existir uma ação , mesmo que para ser negada. Afirm-ação: estar firme na ação, estar inteiro, consistente, fazendo da afirmação que se afirma a alegria suprema, a própria existência. O "si" que nos é íntimo é um modo do Si Absoluto que está em tudo.
Segundo a psicanálise, o "eu" emerge a partir da negação que ele faz dos pais . Nesse processo, a diferença é vista como uma negação originária:o eu nasce de se negar o outro ( os pais). Mas "quem" faz esse negar na criança? Para a psicanálise, não há ainda um "quem", mas já existe um negar, um negar de outro alguém. Para Espinosa, antes do eu existe o "si". O "si" não é o "eu" ( "ego").O eu nasce da interação imaginativa e imaginária com os outros, isso porque o eu é mais social do que ontológico, o eu não existe sem a fala e a imaginação que a sustenta. Em geral, os que mais acreditam no "eu" são os que mais tagarelam e falam, sobretudo falam de si mesmos.
O "si" não é uma negação originária, nenhuma negação pode ser originária. "Neg-ação": "negar uma ação". Toda negação é secundária, primeiro é preciso existir uma ação , mesmo que para ser negada. Afirm-ação: estar firme na ação, estar inteiro, consistente, fazendo da afirmação que se afirma a alegria suprema, a própria existência. O "si" que nos é íntimo é um modo do Si Absoluto que está em tudo.
O "eu" nasce por oposição ou negação imaginativa com a alteridade. O "si" é a afirmação de uma comunidade ontológica enquanto graus potentes e singulares do Si Absoluto, que é Causa de Si. Esse afirmar-se ontologicamente em conjunto é a base filosófica para a compreensão do comum como potencialização, também política e democrática, de si .
Como escrever o nome do filósofo?
Quem já pesquisou minimamente esse tema já se deparou com
justificativas distintas para optar por Espinosa ou Spinoza. Os que
preferem a grafia "Espinosa" pesquisam em fontes mais raras, notadamente vinculadas à
origem portuguesa do filósofo. Os que preferem "Spinoza" não apresentam muitas
fontes, além daquelas consagradas. Por que optamos por Espinosa? Não
pelo sobrenome, mas pelo nome que o sobrenome acompanha. Em hebraico, "Baruch". Espinosa
rompe com esse nome e se rebatiza , filosoficamente, "Benedictus". Com este nome
Espinosa rompe com o nome que lhe pôs a comunidade judaica. Com "Benedictus", Espinosa
se rebatiza na mesma língua de Sêneca e Cícero. No entanto, com o nome "Bento",
português, ele não rompe. Este o acompanha, como o acompanham seu sangue, sua
imaginação e a língua viva de seus pais, e não uma língua morta , erudita, como o latim (Espinosa não falava latim em casa, o latim é uma língua que não conheceu sua fala).
Podemos dizer que Baruch é o nome profético, Bento é o nome apologético,
enquanto Benedictus é o nome crístico, desse “Cristo dos filósofos”, como lhe
chamou Deleuze. Por esse argumento, apenas Espinosa ele mesmo se pode chamar Benedictus, como de fato se chamou, nascendo de novo no nome que ele criou. Nós, seus admiradores, afetados por essa vida filosófica, modestamente o chamamos de Bento, também com amizade e carinho. Benedictus pede a companhia de Spinoza, Bento combina com Espinosa. Ambas as grafias são corretas, embora de perspectivas diferentes. Então, entre o hebraico,
o latino e o português, optamos pelo português, pois "Espinosa" soa mais próximo do som que naturalmente sai de minha boca brasileira.
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