domingo, 25 de junho de 2017

a inocência

Nietzsche conta mais ou menos a seguinte história:

Imagine que um homem muito moralista ( e ser moralista não significa a mesma coisa que ser ético) quer julgar sua própria vida, para assim achar a causa da qual nascem  as ações e pensamentos que ele considera “ruins”. Digamos que ele pudesse examinar sua vida como se fosse uma fita que ele assistisse de frente para trás, do presente para o passado, com o poder de “apagar” os acontecimentos que ele julgasse não terem merecido existir. Ele hoje é um adulto. Então , ele começa por examinar seus 20 anos e nessa idade vê que ele fizera coisas que não merecia ter feito, como se embriagar muito, por exemplo. Assim, ele “apaga” de sua existência esse acontecido. Porém, ele julga que a causa do “mal” está mais atrás ainda. Ele vai até aos 15 anos, e descobre aí coisas a apagar, como o ter fumado escondido ou o ter se trancado no banheiro com revistas de mulher nua. Ele apaga essas coisas que a moral condena. Mas ele julga estar mais atrás a causa do “mal”. Ele vai então aos 10 anos. Encontra também nessa idade coisas a apagar, como o ter matado aula para ir ao cinema . Porém, o “mal” parece estar em idade mais recuada ainda: ele vai aos 5 anos, e mesmo aí acha o que culpar. Talvez, ter assaltado a geladeira para comer escondido o doce que a mãe proibiu, ou ter brincado escondido de médico com a vizinha. No entanto , o “mal” parece estar mais atrás ainda. Ele vai então aos 12 meses de idade, mesmo aí a moral acha o que condenar, talvez o fato de o menino sujar as calças. Mas o homem prossegue ainda mais no exame de sua vida, pois crê que a causa do “mal” está mais atrás ainda. Ele se vê com três meses, e se envergonha em ver-se sugando o seio da mãe, a isso ele apaga...Ele vai ao 1 mês de vida, mesmo aí ele encontra o que condenar, talvez o chorar muito ...Mas o “mal” deve estar mais recuado: o homem se vê com 1 dia de vida, e mesmo aí ele encontra o que condenar e apagar, sabe-se lá o quê, talvez a nudez do corpo. Ele vai mais atrás ainda: se vê com 10 minutos de vida, com 10 segundos, 9, 8, 7...3, 2,1...ele vai nascer...Ele pode julgar esse acontecimento como um  mal e apagá-lo? Se ele julgar esse acontecimento como um mal e quiser apagá-lo, não seria esse homem um ressentido, um doente, um louco? A vida é inocente, é preciso protegê-la de tais homens, sobretudo quando  eles querem ter o poder  de  educar as crianças ou dominar o governo de nossas cidades e Estados. Se os homens andam mal, a culpa não é da vida.



Nenhum comentário:

Postar um comentário