É a minha própria casa,
mas creio que vim fazer uma visita a alguém.
Maria Gabriela Llansol
Para tal, é meu desejo: quando
vier de fora um encontro , o derradeiro mau encontro, que desfará minha maneira
de ser, queria então ser cremado.Não quero ficar sob a terra.Não quero
lápide,mármore ou placa me identificando . Não queria, porém, que minhas cinzas ficassem em um baú: quero que elas sejam
colocadas ao pé de uma amendoeira, que elas sejam aí lançadas. Quando eu
estiver bem velhinho, desejo até mesmo escolher a amendoeira que devirei.
Ao invés de ser roído pelos
vermes cinzas,quero ser sorvido pelas plantas,pelo verde −este mesmo verde que
se alimenta do amarelo que atravessa o azul. As raízes serão apenas a porta de
entrada para aonde desejaria ir: às flores e, a partir destas, aos frutos, e
que eu possa ser parte de um.Lágrimas,
se houver,que sejam apenas as da chuva, lágrimas sem tristeza,que possam me regar.
Não queria que fosse a amendoeira dentro de alguma propriedade, destas que ficam no
quintal ou calçada de alguém que pretenda ser seu dono,em torno da qual há
sempre um limite,uma cerca. Teria que ser uma amendoeira sem dono,impessoal,
anônima, “uma” amendoeira, que fosse
apenas a casa dos pardais,sob a qual possa haver o descanso para o viajante, a proteção
para as crianças que brincam e o acolhimento para os casais que se amam.
Provavelmente , ela teria que
existir em algum parque ou floresta,mas que não fosse inacessível ou isolada.
Que eu possa continuar a ser nela, como parte dela , ela que é parte da terra,
do cosmos, de deus: simples casa de pardais.
Em vez de jazer, você vai (re)viver na amendoeira!
ResponderExcluirValeu, João!
ResponderExcluirMuito lindo! Nunca li (e ouvi) nada parecido antes.
ResponderExcluirAbraços,
Flávia
Nós, os pardais, agradecemos...rs...
ResponderExcluirUm abraço, Flávia!