Há dois sentidos
para a palavra “nada”. O primeiro deles vem de “nihil.” Essa palavra é a origem
de niilismo. Além de “nihil” significar “nada”, nihil também significa “nulo”.
No Direito, por exemplo , usa-se a expressão latina “nihil” para designar atos
que são juridicamente nulos.
Nesse último sentido, niilismo
não é um culto ao “Nada” ou ao “Nirvana”, niilismo é um comportamento que é
nulo, sem autenticidade. Por exemplo, o inelegível vivia evocando a ideia de “Verdade”, porém
essa ideia de “Verdade” na boca dele é nula , pois anula a própria ideia
autêntica de verdade.
A “Verdade” dele
não é uma mentira, é uma “nulidade”: enquanto a mentira se explica no âmbito da
linguagem, a nulidade é mais grave, uma vez que ela expressa uma estreiteza
existencial.
Muitos
espertalhões evocam a palavra “Deus” como cabo eleitoral deles. Embora falem em
Deus para combater o “ateísm0 c0munist4”, esse Deus deles, porém, anula a
própria ideia do que se espera que seja Deus: esses espertalhões anulam a ideia
de Deus muito mais do que a negação feita pelos ateus.
O autêntico anarquismo
nega a necessidade de partidos, mas não nega a política; já o PSL e os partidos
do “centrão” são nulos de ideias políticas. Uma coisa é negar uma realidade,
outra bem diferente é tornar nula uma realidade pela inautenticidade com a qual
ela é usada.
Mas há outro
sentido para a palavra “nada”, originado do latim “nata” ( raiz de “natal”:
“lugar onde se nasce”). Esse sentido talvez explique por que Manoel afirma que
sua poesia vem de suas “natências” ou “nadifúndios”, enquanto riqueza de vida
para nos proteger das nulidades niilistas.
O saber que
apreende esses “nadifúndios” chama-se: ignorãça. Ignorãça não é ignorar o nome
das coisas, ignorãça é saber de coisas que ainda não têm nome : “As coisas que
ainda não têm nome são mais ditas pelas crianças”, diz o poeta. Uma caneta de
ouro nas mãos de um niilista, mesmo que ele tenha poder e dinheiro, escreve só
pobreza. Já o simples lápis do poeta retira do nada de suas natências a sua
riqueza.
O poeta põe
nascimento em seu lápis para que a gente, ao lê-lo, de vida se enriqueça:
“Na ponta do meu
lápis tem apenas nascimento.” (Manoel de Barros)
“Não há arte que
não seja uma liberação de uma força de vida. Não há arte da morte.” (Deleuze)


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