Os filósofos que estudam a formação das
sociedades humanas ao longo da história apontam
para a existência de três agrupamentos: a família , a aldeia e a pólis ( a
sociedade política).
Na família , o chefe era o “pai”, sendo o sangue o princípio que une a família . A aldeia nasceu do agrupamento de famílias, com a mais poderosa delas ocupando
o poder e tendo a maior posse de bens e
terras. De certo modo, a aldeia é uma extensão da família tornada clã.
Mas acontece algo diferente com o
surgimento da pólis enquanto sociedade política: as relações políticas não são
uma extensão da família, tampouco a
pólis está assentada no sangue ou na
posse de bens e terras.
A sociedade política segue uma lógica
diferente da família e da aldeia: na pólis, o poder não deve ter por suporte o “homem-pai”
ou o chefe do clã, e sim a liberdade e a igualdade , incluindo a igualdade entre homens e mulheres.
Se na família o vínculo é o sangue, na
sociedade política o liame é a regra social instituída conforme deliberação
coletiva.
Os membros de uma mesma família ou clã são parentes, porém os membros de uma
sociedade política são cidadãos/cidadãs: somente na sociedade política surge o “outro”
como valor relacional fundante. Os partidos políticos, por exemplo, devem
existir em razão da sociedade política,
e não das famílias ou clãs.
Por isso, somente na sociedade
política pode haver, de fato, a socialização do ser humano : a socialização não pode ficar restrita à família , já que a socialização requer a dimensão
social do “outro”, base da educação.
A socialização pressupõe a ideia de
que o outro diferente de mim é, do ponto de vista social, um igual a mim,
independentemente se ele tem ou não meu sangue, se ele é ou não proprietário de bens e posses.
Os que têm ódio à política e exaltam
a “família conservadora ” como fundamento da “pátria” , tal como pregam o inelegível e seu “clã”, esses em geral têm baixo
grau de sociabilidade e desprezam a educação emancipadora.
Não por acaso, milícias e máfias têm uma
estrutura calcada nesse tipo de “família-patriarcado-clã” . E quando tal
família-clã vira inimiga da outra, isso sempre acaba em “derramamento de sangue”,
pois é o sangue , e não a regra social democrática, o critério que une ou
separa, com ódio mortal, aqueles cuja mente não alcançou o nível civilizatório
da pólis.
E ainda há os “liberais”, para os
quais é o indivíduo e seu ego, e não a sociedade política, o fundamento de
tudo.
Quando liberais e (ultra)conservadores se unem , como vemos agora, nasce a aliança antissocial do dinheiro com o sangue, do capital com o conservadorismo-patriarcal, de tal maneira que as corporações se tornam clãs , incluindo os “clãs” da mídia corporativa, que ameaçam a sociedade política plural e a luta pela igualdade e justiça social .
Espinosa é uma das referências do texto:
.
ResponderExcluirBRAILE
(para pessoas de visão)
Quem não?
Quem, algum dia, não pegou um lápis e desenhou no papel o contorno da própria mão?
Quem não teve essa oportunidade de, interagindo com um papel e um lápis, e vendo a representação gráfica visual da sua mão e do que ela pode produzir no mundo, experimentar a potência da ação?
Entretanto, esse simples ato (desenhar) provocou mudanças no papel, no lápis e na percepção do desenhista. E, também na sua relação com o mundo.
Uma imagem é a ideia que se forma na mente, mediante nossas interações com o mundo, através dos sentidos e, que produz em nós algum sentido.
Cada um de nós tem uma pele que nos delimita. É a pele que nos separa e nos liga ao universo, no qual estamos contidos, e que liga esse universo ao universo interior peculiar a cada um. Aí moram as idiossincrasias mas também a sensibilidade. A pele é o limite do corpo; mas, não limita a sensibilidade humana. Não necessariamente.
Também existem outros sentidos, além do tato, da visão, da audição, do olfato e do paladar. E cada sentido nos dá alguma informação do mundo que nos cerca. Estabelecemos diálogos entre o mundo interior e o exterior através de um sentido muito especial que resulta desses sentidos primeiros: o sentido de humanidade.
O que significa o sentido de humanidade?
Significa nos reconhecermos uns aos outros; e uns nos outros. Isso requer um diálogo que ecoe em nós...
Quem tem dois olhos, enxerga. Assim como, enxergam, o caolho e o vesgo. Mas o cego também vê, formando imagens mentais; com apurada sensibilidade, com as pontas dos dedos, vai desenhando, reconhecendo e significando seu mundo.
Então, pergunto:
Quantos de nós?
Algum dia vamos ver o desenho da nossa própria humanidade?
O que nossas mãos realizam, por correr ou não correr um risco, contornando as consequências dos atos e omissões?
A Humanidade precisaria repetir aquele ato de traçar um risco em torno dos dedos da mão e, fazendo a leitura do sinal universal de "PARE", ressignificar a contribuição de cada um na história.
Parar, pensar, sentir. Refletir e sentir...
Sentir o gosto do sangue.
Sentir o cheiro do sangue.
Ouvir os gritos da dor.
Ver a cor do sangue que lhe escorre das mãos.
Sentir o calor humano que se esvai na desumanidade.
Não é possível ler em braile sem ter sensibilidade na ponta dos dedos.
O nosso entorno nos dá contorno. Somente no diálogo encontramos retorno.
Diálogo.
Mesmo que seja em libras, alguém poderá nos "escutar".
Caso seja preciso desenhar:
As guerras destroem a humanidade nos "vencedores"...
BASTA ! 🖐🖐🖐🖐🖐