quarta-feira, 4 de outubro de 2023

o monumentador de passarinhos

 

Ouvi certa vez a seguinte história de autoria popular ( que aqui parafraseio e interpreto): de um lado estava São Francisco, do outro o Diabo. Separando a ambos ,  um muro; e em cima do muro estava  alguém que se dizia “Neutro”.

 Francisco  disse ao “Neutro”: “- Venha para este lado, aqui há luz e  empatia  pela vida do outro.”

Do   lado oposto do muro , porém, o Diabo permanecia calado.

Vendo  o “Neutro” ainda indeciso e  parado, Francisco  prosseguia : “- Venha se juntar a nós , Buda também está aqui deste lado; também estão Lao-Tsé, Confúcio,  Orixás , Tupã, Mães-de-Santo,  pajés ... Bem como todos aqueles que, tendo ou não religião,  agiram para defender e libertar  os oprimidos e injustiçados.”

Estranhamente, o Diabo seguia mudo, ele que gosta tanto de se vangloriar...

Então, Francisco levantou a cabeça , olhou sobre o muro e indagou ao que reinava na treva  do outro lado : “- Por que você   permanece  calado?”

“- É que esse muro onde o ‘Neutro’ está  instalado  pertence a mim”, disse o Diabo.

Do certo lado do muro, o poeta Manoel de Barros assim poetizou: “São Francisco monumentou os passarinhos.”

 

(obs: A postagem se apoia mais no personagem social-popular Francisco, um personagem da literatura de  cordel . Não é tratado o tema do ponto de vista de uma religião. Inclusive , dei a entender que do lado do muro onde está o personagem Francisco também podem estar agnósticos e até ateus. De todo modo, hoje, dia 4 de outubro, é Dia de Francisco)

(A foto que acompanha a postagem  mostra a escultura “Cristo sem teto”, obra do escultor Timothy Schmalz; a outra imagem é a do padre Júlio Lancelloti , que é sempre alvo de repressão da polícia quando ele, franciscanamente, realiza  seu trabalho de auxílio  aos moradores de rua e sem teto)





 ( trecho do filme "Irmão Sol, Irmã Lua", de Franco Zeffirelli. Na cena, Francisco se despe do mundo do homem branco proprietário e renasce nu, como nossos indígenas) 

Um comentário:

  1. PEQUENA CARTA AO OUTRO
    (robertomarques)

    Cara e querida pessoa,

    Nunca saberei qual bem eu faço a quem eu desejo o Bem.
    Porém, uma reação de aceitação ou de rejeição me mostra se (ou que?) eu faço algum bem. Senão, pela qualidade do meu desejo, talvez por ser ele o que é.

    Ainda assim, corro o risco!

    Desejo a ti, asas que permitam voar até o horizonte e ir além do que te faz simplesmente feliz.
    Porque nesse não-lugar está um verdadeiro tesouro. E esse tesouro é teu.

    Asas para quem as deseje!
    'Asas para simplesmente voar...'

    Empoeme-se !!!


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