quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Interdependências...

 

Na maioria dos países democráticos, a festa da Independência é um acontecimento que expressa os diversos segmentos da sociedade, sendo vivida como uma festa cultural plural , pois toda independência deve ser comemorada em alegria .

No Brasil, os  milicos se apropriaram da data da Independência, como se eles fossem os tutores e donos, ontem e hoje, de nossa Independência.

Segundo o filósofo Espinosa, um processo de independência , seja a independência de um indivíduo seja a independência de uma coletividade, nunca é um processo acabado e absoluto. Todo processo de independência autêntico vem acompanhado de dependências também.

Por exemplo, o aluno depende inicialmente do professor para conquistar sua autonomia do pensar próprio; e o professor, por sua vez, depende do aluno para partilhar seus conhecimentos; o amigo depende do amigo para viver a amizade e crescer como pessoa; o Brasil depende de outros países para trocas comerciais e culturais; enfim, a humanidade depende da água,  do ar, do clima, das florestas, enfim, do planeta terra.

Indivíduos ou nações, não somos seres isolados existindo  como um todo à parte, e é por isso que sempre haverá alguma forma de dependência.

Mas há dois tipos de dependência: a dependência que serviliza e rouba a autonomia de uma das partes, cujo modelo é a relação tirano-servo (Espinosa nomeia esse tipo de dependência como “mau encontro”) , e existe  a dependência na qual há trocas, mútuas ajudas, partilhas, agenciamentos, de tal modo que ambas as partes se autonomizam juntas, sem servilismos e tirania ( são os “bons encontros”).

Nos maus encontros são gerados tristezas, ódios, preconceitos, ignorâncias, enfim, impotências; já nos bons encontros são produzidos conhecimentos e autoconhecimentos, alegrias,  saúdes,  ideias, enfim, potências.

A opinião de que a independência é um processo absoluto e de que nada depende, é uma visão  narcísica, egoica; no plano das nações, tal ideia de independência ensimesmada alimenta a paranoia entre as nações, prato cheio para os nacionalismos militaristas.

A humanidade interdepende de si mesma para construir-se autônoma, uma autonomia que se exerce também com solidariedade  e cooperação.

Uma festa que seja realmente de uma Independência conquistada e alimentada cotidianamente pelas nossas práticas , deveria ter um desfile não com canhões , tanques  e milicos sisudos marchando uniformizados ( que fomentam, na verdade, servis dependências...).

Uma festa da Independência realmente democrática deveria ter um desfile semelhante ao  das Escolas de Samba, porém reinventado; no qual  as alas seriam compostas por povos indígenas, quilombolas, moradores  das  periferias, educadores e educandos, os diversos movimentos de minorias, artistas... E  os únicos  uniformes seriam apenas os das crianças representando as escolas públicas. 







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