quinta-feira, 1 de junho de 2023

guerrilha semiótica

 

Os jornais surgiram na Europa como espaços críticos e simbólicos da então emergente  burguesia  . Os jornais nasceram como voz de uma classe contra outra classe: como voz da burguesia contra a monarquia.

Depois, com os movimentos operários, surgiram jornais de esquerda como voz dessa nova classe nascente. Até hoje na Europa, há jornais de esquerda que fazem contraponto aos jornais liberais hegemônicos que , tal como no passado, ainda defendem o interesse de uma determinada classe, ainda que tentem dissimular isso.

No Brasil nunca houve algo semelhante: aqui, a imprensa foi criação da monarquia, quase como uma porta-voz dela. Os primeiros jornalistas eram filhos de senhores de engenho. Nunca tivemos, a não ser isoladamente , uma imprensa que tivesse outra voz sem ser a voz da classe dominante. Hoje, os senhores de engenho são outros...

 Um empresário estadunidense ultradireitista , ferrenho apoiador e financiador  de Trump, recentemente disse com cinismo: “Marx estava certo, o motor da história é a luta de classes.  Só que agora somos nós, os ricos, que fomentamos a luta e avançamos  contra  nossos inimigos:  os pobres.”

Com raríssimas exceções, a atual imprensa brasileira tornou-se um instrumento não de crítica , mas de ódio de classe a serviço desse tipo de  mentalidade que tem por aqui suas versões. E se um governo tem por desejo auxiliar de alguma forma os pobres, o ódio contra ele  será ainda maior...

Some-se a esse triste quadro o fato de que boa parte da mídia que chega ao povão está nas mãos de igrejas que têm um projeto de poder teológico-político.

Não há como mudar esse quadro a não ser exercendo o que Umberto Eco chama de “guerrilha semiótica” :  um espaço de contrapoder que dê voz às falas minoritárias e heterogêneas .

Pois nunca a voz da diferença e da potência singularizante  será voz dominante , ela será sempre voz plural cuja tática deve ser  a da guerrilha semiótica cujas armas são as ideias e afetos libertários.

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