sexta-feira, 19 de maio de 2023

quilombo espinosista

 

A palavra “fortaleza” nos faz imaginar algo cercado por muros espessos e com arame farpado. Em seu livro chamado “Ética”, porém, Espinosa realça uma virtude chamada exatamente fortaleza (“fortitudo”, em latim). Mas a virtude-fortaleza em Espinosa não tem muros ou cercas, embora seja dela que pode advir  a resistência ética expressa em  ações libertárias.

"Fortaleza" procede de "força". A palavra “quilombo” , espaço da força de  resistência frente as tiranias, significa “fortaleza” na língua banto.

Alguns tradutores traduzem "fortitudo" como "força de ânimo" ou “força da vida” ("ânimo" vem de "ânima" = "unidade vital da alma e do corpo"). Tal força não se expressa apenas em termos de músculo. O contrário do ânimo não é a morte ou a doença, mas o des-ânimo.O oposto da vida não é a morte, e sim a vida enfraquecida em seu ânimo.

 A fortaleza-virtude tem força, mas não é violenta; ela tem potência, porém não é soberba; ela é firme, sem ser rígida.

Na sabedoria oriental considera-se a flor de lótus o símbolo da fortaleza: ela não tem muros a cercando , porém a lama não a contamina ou turva. Apesar da sujeira em torno, a flor de lótus ensina a como perseverar sendo ela mesma. Ela ensina com sua existência, sem precisar de sermões ou ordens .

No Japão antigo, o candidato a samurai deveria passar por uma prova que não era meramente teórica ou acadêmica: ele deveria aprender com a flor de lótus a como não se contaminar com a sujeira, mesmo cercado de lama.

A flor de lótus simboliza a mente que pensa unida ao corpo que age , por mais hostis que sejam as circunstâncias . Como ensina o samurai-poeta Manoel de Barros: “Sei de todas as espurcícias do mundo, mas do que gosto mesmo é de circo.”

(a imagem é a de uma cena do filme “A saga do judô”, de Kurosawa: fortalecendo o ânimo, o aprendiz de guerreiro aprende a lição da flor de lótus. Pois é com o ânimo, potência da vida, que a mente se autoafirma e luta , antes mesmo de lutar com os braços e pernas . O judô é apenas um pano de fundo do qual Kurosawa se serve para abordar questões ligadas à ética, à política, ao poder, à justiça, ao ensino e ao aprendizado )








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