domingo, 9 de abril de 2023

fios de Ariadne

Na mitologia , o fio de Ariadne era uma linha segura  por aqueles que desejavam ir longe, libertariamente muito longe... Pois o fio saía de um novelo inesgotável  que não deixava  ninguém se perder.

 “Ariadne” significa, em grego, “aranha”. Assim como na aranha, é  do ventre de Ariadne que nasce seu  fio libertário e artista.  Ariadne também é o símbolo inesgotável da vida  : ventre absoluto, o fio que sai dela é para fazer linhas de fuga.

Alguns bordam quadros com tal fio, outros compõem música; há ainda os que fazem versos com esse fio, enquanto outros  tecem filosofias.

O fio se desprende de um novelo. “Novelo” significa: “novo elo”. O ventre de Ariadne é a pura potência para gerar novos elos  e necessários agenciamentos.

Às vezes, porém,  o fio de Ariadne precisa ser descoberto. Certa vez em um hospital psiquiátrico um interno se despiu do uniforme de louco que lhe colocaram, desfez a forma das roupas com significado pronto e acostumado, até achar de novo o fio tal como ele era antes de  um uniforme com  ele ser fabricado.

O fio assim encontrado se metamorfoseou em sentido novo a ser bordado: e foi assim que Arthur Bispo do Rosário religou o fio de sua  vida ao novelo criativo da humanidade inteira,  para desse modo  bordar paisagens, personagens e recriar seu mundo,  horizontando  e enriquecendo  nossa compreensão , como ensina também Artaud, acerca dos mil estados possíveis de existir e ser.

O poder autoritário pode até tentar cortar o fio, ou com ele fabricar uniformes para tudo vestir homogêneo. Mas enquanto houver  o existir não conformista,   o  fio cortado pode ainda  ser achado e de novo puxado para com ele se bordar   linhas de fuga , mesmo onde parecia  impossível...

Quando a gente dá as mãos para defender a educação, a  democracia, a pluralidade e a liberdade , nós mesmos  nos tornamos elos de um fio de Ariadne puxado do novelo inesgotável da vida.

 

( este livro é apenas uma sugestão de leitura)







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