sexta-feira, 21 de abril de 2023

eros, psiquê & pneuma

 

Em grego, há vários nomes para a “alma”. O mais original  é “Psiquê”. Não por acaso, na mitologia  Psiquê era o nome próprio de uma jovem. Diferentemente do termo  “Razão”, princípio masculino , Psiquê não é conceito teórico, Psiquê é nome próprio.

Psiquê não é o nome  de apenas uma parte da alma, mas da alma inteira. Psiquê não era somente   raciocínio.  Ela era isso também e mais sensibilidade, intensidade, beleza , generosidade , coragem, coração e poesia.

 Enquanto a Razão tem a pretensão de  existir e pensar sozinha ( exemplos disso são o  racionalista Descartes,  com o seu ensimesmado “Penso, logo existo”, e o rígido  Kant  com sua “Razão Pura”) , Psiquê só se viu inteira quando encontrou sua companhia.

A companhia de Psiquê é Eros, o Amor. No seu sentido originário, a palavra “amor” nasceu  da reunião da partícula “a” com função privativa ( como em “a-fasia”, “não fala”) mais a abreviação da palavra  morte ( “mor”). Assim, “amor” é : “não morte” ( nos vários sentidos que a morte pode ter).

É na companhia de Eros , agenciada com ele, que Psiquê resiste à morte; e  é na companhia de Psiquê que Eros aprende que ele mesmo não sabe tudo o que pode.

A  “alma” possui ainda  outro nome: “pneuma”. Essa palavra costuma ser traduzida por “sopro”. Em latim, “spiritus”. Porém  pneuma, ou spiritus, não é  o sopro  que a gente expira  ( quando colocamos o ar para fora). Pois pneuma designa o ar  que a gente inspira, puxando o ar para dentro de nós .

 Quando a gente expira, é a gente que sopra; mas quando a gente inspira é a própria  vida  que sopra  dentro de nós, e assim nos conecta com a respiração da própria Mãe-Terra. Somente aqueles a quem a vida inspira e enche de ar vital  perseveram para  ser inspiração para os outros se encherem de vida também, por maior que seja o sufoco...

Quando o bebê sai do ventre e nasce,   o ato que inaugura seu respirar é o inspirar  que o enche de   vida. Esse inspirar inaugural não é feito apenas pelo seu pequenino pulmão, mas por todo seu corpo. Este é o sentido original de “inspiração”: “encher-se de vida para intensificar a vida que vive em nós”, para que não nos falte o ar do possível...

Na verdade, a tradução mais correta de “pneuma” não é “sopro”, e sim “brisa úmida”, também ideia feminina, como aquela brisa que , vinda do oceano, ao deserto estéril  vivifica.

É de um sopro potente assim , sopro que precisamos intensificar em nós pessoal e coletivamente, é de um Pneuma assim  de que fala o escritor Nikos Kazantzákis: "Por toda parte , estremecendo, sentimos o mesmo  Sopro gigantesco que, escravizado, luta por libertar-se".


( este livro é apenas uma sugestão de leitura)





 

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