segunda-feira, 26 de setembro de 2022

clínicas...

 

Gosto muito da palavra “clínica”, bem como da necessária prática que ela suscita. O sentido originário dessa palavra tem íntima relação com  filosofia ,  artes, educação e até a mesmo com a política. Pois clínica não é apenas algo individual, também há a necessidade de uma clínica coletiva que potencialize a democracia.

Em seu sentido original, “clínica” significa: “chegar perto, debruçando-se”. Clinicar é se aproximar para se debruçar sobre o ser que precisa de nossos cuidados ( “debruçar” no sentido de “envolver com cuidados”).

O bom médico é sempre um clínico, ao passo que o mau médico mantém o paciente à distância como se fosse  um mero objeto.

Nem toda filosofia é clínica. Ela se torna clínica quando nos auxilia a nos aproximarmos de nós mesmos: toda clínica cria proximidade.

Criar proximidade não é o mesmo que diminuir a distância no espaço. O telescópio, por exemplo, diminui a distância entre nossos olhos e a lua; porém o telescópio , enquanto aparelho inventado pela técnica, fica entre nossos olhos e a lua, mantendo a lua externa a nossos olhos.

Mas quando lemos num poema a lua retratada em versos, a poesia põe a lua  próxima de nós. Porém é uma lua que somente nossos olhos criativos podem ver, nunca a consegue alcançar um telescópio. Não porque a lua do poema esteja longe, mas sim em razão de ela estar de nós  próxima enquanto possibilidade existencial nossa.

A lua do poema fica tão de nós próxima, que experimentamos em nós um devir-lunar que põe amplidão de céu em nós. A técnica mantém a lua como objeto exterior a nós, mas a poesia põe a lua em nós como clínico afeto.

Assim como o poderoso telescópio  James Webb nos faz ver o nascimento das galáxias, um potente poeta ou filósofo nos faz ficar próximos daquilo que em nós ainda é um núcleo incandescente e não formado de um novo ser ainda por nascer: “Para brilhar e ter luz própria, é preciso ter caos dentro de si”(Nietzsche).

Quando leio Clarice Lispector sinto como se ela fosse uma pneumologista que nos ajuda a respirar ar puro vital  para não sufocarmos .

Deleuze e Cláudio Ulpiano são  oculistas que potencializam nossos olhos a verem melhor infinitos mundos, tanto os mundos de fora  quanto os mundos de dentro.

Manoel de Barros e  Fernando Pessoa são cardiologistas que vitalizam o coração que por todo nosso corpo pulsa.

E Espinosa é o clínico geral. Com ele aprendi que a melhor maneira de vencermos  a doença não é ficando com medo dela ou a odiando, a melhor maneira de vencermos a doença é amando   a saúde, e agir a favor dela com a máxima potência que pudermos.

É pelo conhecimento que compreendemos as causas que geram as doenças,  auxiliando-nos assim  a     vencê-las, pois  o conhecimento é a saúde do pensamento.

Para a luz dissipar a treva,  basta a luz acender a si mesma.










Um comentário:

  1. “QUE NINGUÉM ENTRE AQUI, EXCETO OS GEOMETRAS”

    Dispôs, Deus, do seu tempo infinito.
    Terno e eterno é o Tempo; pois
    É terno o Amor Divino.

    Amor Universal,
    Em versos,
    Cria o Universo,
    Uno,
    Em ato universal do seu amor.

    Em tamanha,
    Enorme explosão de ternura,
    Cria a matéria:
    Dispersas partículas.
    Imbuídas de eterna tendência a se reagrupar
    Na ternura do amor universal.

    Cada átomo dessa matéria prima,
    Prima Matéria,
    Busca se reunir,
    Se abraçar.

    Abraçados uns aos outros,
    Atômicos elementos,
    Consubstanciam-se em combinações, em relacionamentos
    Plurais, moleculares.

    Na pluralidade, se organizam, e
    Seguem tomando forma, já
    À vista, umas das outras.
    Organismos.
    Cognição.
    Inteligência.
    Vida.

    Inteligência viva, então,
    A matéria questiona a Vida.
    E, necessita da morte para contrastar a vida;
    Para entender os ciclos do Tempo;
    Para sentir a ternura
    Da energia do amor que reúne
    Os diversos
    No universo
    Plural.

    Necessita, a matéria,
    Conhecer a separação
    Para descobrir que somente há
    Parte no Todo,
    No Uno,
    Amor Universal.

    Dispôs assim, Deus,
    Do seu tempo infinito ...

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