terça-feira, 28 de junho de 2022

a terceira margem

 

As duas margens do rio prendem e limitam o fluxo das águas.  Mas , como ensina Guimarães Rosa, o rio possui ainda uma terceira margem . Essa terceira margem ora é a nascente e “minadouro” do qual o rio nasce; ora é o oceano no qual o rio se infinitiza e se torna.

 A terceira margem nos mostra que rio, oceano, chuva, suor e lágrima...tudo é metamorfose diferente de uma mesma  água fontana que banha, batiza, rega,  orvalha e mata a sede de vida de quem bebe em suas libertárias  águas.

A gramática e suas regras constituem  as duas margens que contêm a palavra. Porém  a poesia é a terceira margem da qual um  sentido novo fontaneja, torna-se fluxo avançando  inaprisionável , até  horizontar-se oceano  que abraça e é abraçado pela Mãe-Terra.

 

“A cisterna contém,

a fonte transborda.”

(W. Blake)


“Poeta é quem possui visão fontana.”

(Manoel de Barros)


“Um fluxo é como um rio cuja correnteza  é mais veloz no meio e rói suas margens.”

(Deleuze)


( ontem, 27 de junho, aniversário  de nascimento de Guimarães Rosa)





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