sábado, 25 de dezembro de 2021

os filhos da esperança

 

O filme “Filhos da Esperança” (Children of Men ) se passa em 2027. Nesse futuro próximo um estranho acontecimento assola a humanidade : todas as mulheres do mundo se tornaram estéreis, não nascia uma criança há quase 20 anos !

Por não ter mais futuro, a humanidade não tinha mais projetos, planos, cultivos. Escolas e universidades estavam fechadas. Também estavam fechadas as cadeias: para que prender alguém visando sua recuperação futura se a própria sociedade estava sentenciada à morte? O  poder não prendia: “abatia” ( como fazem os fascistas de hoje...).

Obras de arte que hoje valem milhões eram encontradas jogadas na rua. Simbolicamente, a esterilidade em questão é a perda do sentido do futuro. A cultura, o conhecimento, a política... tudo se tornou estéril. A única instituição que ficou mais forte era o exército, virando uma facção miliciana contra a sociedade.

Os conservadores acham que é o passado a dimensão mais importante . Porém, mais do que conservação do passado, a vida é abertura ao futuro. Se este corre riscos, toda obra humana parece perder sentido.

Contudo, no meio do filme acontece algo extraordinário e imprevisto: uma refugiada jovem, preta e pobre, muito pobre, aparece grávida. A vida ensinava nova lição aos homens, reaparecendo não no ventre de uma mulher da elite, tampouco no altar de um templo, mas no ventre de uma marginalizada.

Porém, a jovem corria riscos:  os “Herodes” de então , como os negacionistas da vacina  hoje,  queriam a criança morta. Um personagem decide agir e proteger a jovem grávida. Ambos fogem e se escondem num casebre abandonado no qual nasce a criança , sendo envolta em farrapos improvisados como manta.

Logo precisam fugir novamente e se escondem num prédio em ruínas onde muitos outros refugiados também se escondiam. Diante do prédio, militares-milicianos atiravam sem parar contra os que estavam lá dentro . O barulho era ensurdecedor...

De repente, como se fosse um indignado protesto contra toda aquela loucura, um chorinho começa a ser ouvido. Era o chorinho do bebê recém-nascido. Pouco a pouco, os refugiados, pondo a própria vida em risco, saem de seus esconderijos e esticam a cabeça para verem de onde vinha aquele hino da vida inocente que há muito não ouviam.

Um soldado ouve o choro e cala a arma. Faz sinal para que um outro também pare. A criança era a vida a afirmar-se resistindo à morte. Era somente a simples vida, paradoxalmente tão frágil e tão forte. Com a criança no colo, a mãe passa por entre os soldados e os vence sem precisar de armas.

Passa diante deles não um rei , príncipe ou figura do Poder, passa uma expressão singular da Potência. Enquanto o Poder é dominação  e se vale de armas para se fazer obedecer,  a Potência é o querer viver que persevera se reinventando Novidade,  futuro que renasce, para que em nós , quem sabe, o mesmo perseverar também se refaça.


(imagem: “Cristo sem-teto”, de Timothy Schmalz)




- Cartaz do filme:





- trecho do filme:



Um comentário:

  1. Eu Indigente
    (robertomarques) 25/12/2021

    Indigente é você quando não enxerga e não crê
    Que numa rua dorme ao relento
    Sem agasalho, sem alimento
    Por você esquecido nalgum canto
    Algum humano ser
    Teu desprezado irmão
    Coberto pelo manto
    Da Lua Branca que a todos vê
    Nossa Senhora da Conceição.

    Indigente, sim
    Quando sai na rua e tropeça
    Em tanto empecilho
    Sem rosto
    Que teu caminho atravessa
    Apenas pedindo pão
    Embora não o faça por gosto
    A necessidade determina.
    Mas você não olha para mim.
    Uma outra luz te ofusca
    Ou cega com falso brilho
    Esses pobres olhos teus.
    Você não vê que sou o Filho
    Da Luz que a tudo ilumina
    No caminho de quem a busca.
    Sou Eu, O Filho de Deus !

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