sábado, 20 de novembro de 2021

o canto crítico , criativo e libertário da arte

 

Costuma-se dizer que poeta é quem conhece e ama as “Musas”. Mas o sentido da palavra “Musa” foi  enfraquecido pela interpretação romântica , que fala do tema das  Musas de forma  “Idealizada” .

Pois, no seu sentido original ,  “Musa” significa : “Conhecimento que vem das artes”. As artes também ensinam.

E esta é a riqueza de tal ensino: para aprendê-lo, é preciso que o corpo também participe do aprendizado , e não apenas a mente ou a razão.

As artes ensinam a ver ( pintura, cinema), ouvir ( música), tocar ( escultura),  fazer ( bordadura, artesanias) , além de  libertar o corpo de todo peso ( como ensina a dança).

As Musas eram nove, pois as artes são plurais e heterogêneas, como deve ser todo aprendizado que emancipa corpo e mente agenciados.

O primeiro a ver as Musas foi Orfeu, o poeta originário. Ele as viu e nunca mais foi o mesmo, tornando-se “aedo”.

“Aedo” é como se diz “poeta” em grego. “Aedo” significa: “aquele que canta”.  Cantando, Orfeu também  foi  filósofo, educador, revolucionário, enfim, o primeiro dos libertários.

Tal como  no mundo de hoje, havia naquela época as obscuras forças antiMusas, antipoesia, anticonhecimento. Elas eram representadas pelas Fúrias, deusas do ódio e da vingança. Foram elas que, certa vez, torturaram e violentaram o poeta Orfeu, por fim decepando macabramente a cabeça do poeta, achando que assim o calariam para todo o sempre.

Imaginando  que a barbárie delas venceu, as Fúrias deram as costas e se foram. Porém, mal deram alguns passos,  elas ouviram  o poeta cantando ainda , e cantando  com mais força. 

Elas se viraram e viram que o poeta resistia cantando apenas com sua cabeça, pois era na sua cabeça pensante que viviam as ideias emancipadoras  que o faziam cantar e ensinar a lição   que ele aprendera com as Musas: a lição da luta pela vida,  pela dignidade , enfim, pela liberdade.

Em toda música, peça de teatro, exposição, filme,  poema, enfim, em todo ato crítico e criativo que , cantando a vida,  resiste  à barbárie, em todo ato assim se pode ouvir ainda, mais atual e vivo do que nunca ,  o canto libertário de Orfeu.

De “Musa” vem “música” e “museu”, pois música e museu também ensinam essas resistências.

“Comemorar” é “co-memorar”: “criar memória junto”. Neste dia em que se co-memora as lutas de Zumbi, Dandara , Tereza de Benguela, Luísa Mahin, Tia Ciata, Clementina , Carolina de Jesus  e tantas outras e outros , faço uma pequena homenagem ao Museu da Maré, espaço de aprendizados, lutas e resistências , no qual se encontra expressa , como lição a não ser esquecida,  a luta de Marielle.


“Descanse tranquilo onde cantam,

 os maus não cantam.” (Schiller)






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