sexta-feira, 22 de outubro de 2021

filosofia e poesia , crítica e clínica

 

A palavra “clínica” significa: “chegar perto, debruçando-se”. O bom médico é sempre um clínico: ele chega perto para melhor envolver de cuidados o corpo e a mente de quem   ele cuida, para fortalecer a saúde e pôr longe a doença.

O mau médico , ao contrário, não envolve  e nem chega perto : mantém o paciente à distância, reduzindo-o   à condição de objeto , como meio para acumular dinheiro ou fazer “inumanas experiências”, como no nazismo e na  Prevent Senior, cúmplice do genocida.

Já a palavra “crítica” vem do ato de “avaliar”, enquanto prática de  estabelecer o valor das coisas e se posicionar.

A clínica complementa a crítica e impede que esta seja apenas uma atividade reativa de destruir ou negar: “só podemos destruir sendo criadores”, ensina clinicamente  Nietzsche.

O bom médico destrói a doença afirmando a saúde: é em favor da saúde que ele age e se posiciona, pois diante da doença torna-se  cúmplice dela  quem crê em neutralidade.  O mesmo se aplica às doenças políticas que põem em perigo a saúde democrática.

A arte e a filosofia nada são se não forem , antes de tudo, práticas críticas e clínicas.  A autêntica crítica , enquanto avaliação da vida,  também tem que ser  clínica : criação curativa  de novos modos de vida.

Filosofia e artes são críticas e clínicas quando nos envolvem com ideias e afetos que , além de nos ensinar e afetar, também são remédios que fortalecem nossa saúde, tanto a do corpo quanto a do espírito. Pois  saúde é potência crítica e clínica, como arte de avaliar e criar .

Deleuze é  filósofo-oftalmologista : ele nos  ensina a ver melhor tanto o que está perto quanto o que está no horizonte, o micro e o macro.

Nietzsche é  filósofo-fisioterapeuta: ele cuida da potência do corpo, para que este possa livremente andar, correr ou dançar, nunca aceitando  se prostrar de  joelhos.

Bergson é  filósofo-pneumologista: ensina nosso pulmão a encontrar o ar do possível , para que a gente não sucumba ante realidades sufocantes.

Fernando Pessoa é  poeta-cardiologista: com ele aprendemos  que o coração também pensa.

Clarice é  escritora-fonoaudióloga: prepara nossa garganta  para que por ela  falem vozes que a gente  nem sabia que tinha.

Espinosa é  filósofo-nutricionista: potencializa  o saber enquanto sabor que descobre o gosto que cada coisa tem: se é alimento ou veneno, bom ou mau.

E Manoel de Barros é poeta-pensador-clínico geral: empoemando-nos, sua poesia nos auxilia  a  manter nossa  saúde vital em dia, pois só com a saúde em dia temos força para lutar.


“A literatura é uma saúde.”(Deleuze)


“Mesmo muito doente, jamais fui doentio.”(Nietzsche)


“Os delírios verbais me terapeutam.” (Manoel de Barros)









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