quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Dostoiévski e o inquisidor

 

“O Grande Inquisidor” é um capítulo  do livro “Os irmãos Karamazov”, de Dostoiévski. A história  se passa na Inquisição Espanhola, época das hediondas fogueiras a serviço   da  intolerância.

Em meio a tanta violência física e simbólica feita em nome de Cristo, o próprio  Cristo retorna, no meio do povo ( e não “acima de todos”).  Para que não houvesse dúvida que era ele, Cristo faz alguns milagres. Cristo queria assim lembrar aos homens  que sua luz nada tem a ver com a chama trevosa das fogueiras a serviço do ódio, da ignorância  e da morte.

Contudo, os soldados  da Inquisição  prendem Cristo, acusando-o de ser um perigoso subversivo. Cristo é preso e torturado pelas próprias autoridades religiosas que diziam falar em seu nome.

É na prisão que acontece o encontro do Cristo-prisioneiro com o “Grande Inquisidor”, chefe e símbolo do poder inquisitorial.

De imediato, o Inquisidor  se dá conta de que aquele prisioneiro era, de fato , Cristo. O Inquisidor questiona Cristo por qual razão ele retornou, alegando que agora era ele, o Inquisidor, que falava em nome de Deus.

O Inquisidor  recrimina Cristo por ter amado os homens julgando que isso os libertaria, e diz  que a única maneira de salvar  os homens é fazê-los renunciar voluntariamente à liberdade,  despertando neles o medo e a obediência.

O Inquisidor dizia que não podia deixar que Cristo retornasse para amar os homens de novo, pois isso poderia despertar nos homens um amor por eles mesmos, amor esse que sempre vem acompanhado do desejo de ser livre e pôr a liberdade em prática, ameaçando assim a Ordem Estabelecida e seus Reis, Tiranos, Monarcas.

Por fim, ele  ameaça dizendo  que usará seu poder de Inquisidor  para mandar erguer  a fogueira na qual , em nome de Deus, arderá o próprio Cristo-prisioneiro.

“Por ordem minha, essa fogueira  será acesa por aqueles mesmos que você quer salvar”, disse o Inquisidor. E completou: “Os homens só querem de você milagres, não querem a liberdade; com meu poder, eu ofereço a promessa de que toda a felicidade que eles desejam a terão em outra vida, desde que essa miserável vida deles de agora seja de obediência  cega a mim.”

Durante toda a fala do Inquisidor, o Cristo-prisioneiro permanece em silêncio, o que deixa o Inquisidor  possesso , berrando furioso.

Até que Cristo se levanta e se aproxima do Inquisidor, que fica assustado temendo receber um tapa. Mas Cristo chega bem perto e beija de leve o  Judas na boca, e assim o cala.

Ainda em silêncio, Cristo chega à porta da prisão, que então se abre, assim como todas as correntes.

Antes de sair, Cristo se volta e olha para o Inquisidor. Queimando no inferno  do seu próprio ódio , o Inquisidor diz suas últimas palavras ao Cristo: “Vá, e nunca mais volte...”


“Dostoiévski é o único psicólogo com quem tenho algo a aprender." (Nietzsche)


"O que é inferno? Afirmo que é o sofrimento de já não poder amar.”(Dostoiévski)


(estarei neste evento)


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