Espinosa distingue duas espécies de
encontros: os bons encontros e os maus encontros. Os bons encontros geram
alegria; os maus, tristeza. No bom encontro, ora somos causa de certos efeitos
que produzimos, ora somos efeitos de causas que agem sobre nós. No bom
encontro, vivemos agenciadamente o conhecimento, o amor, a amizade, a justiça,
a generosidade, a dignidade e, por que não?, a poesia ( no sentido amplo da
palavra, como poética da existência). No bom encontro , ora somos causa da
produção de tais efeitos-afetos nos outros, ora são os outros que são causa
desses efeitos-afetos em nós. Assim, no bom encontro, mesmo quando somos
efeitos de algo, isso não causa servidão : ao contrário, nos auxilia e
potencializa a sermos nós mesmos, como a mão que puxa para cima. No bom
encontro, diz Espinosa, o efeito se difere da causa por aquilo que recebe dela,
e a causa se difere do efeito por aquilo que doa. O doar é o receber mesmo
visto de outra perspectiva, e o receber é o doar mesmo visto de
outra perspectiva, pois ambos são atos nascidos do desejo de potencializar a
vida. Na amizade, ora doamos a amizade, ora a recebemos, sempre para fortalecer
a amizade. E tanto no doar quanto no receber há potência, alegria.
O mau encontro, ao contrário,
caracteriza-se por aquilo que ele nos tira. No mau encontro somos sempre
efeito, efeito de uma causa que nos suga e tira. Ela nos tira sobretudo a
capacidade de sermos causa de governar a própria vida. Não apenas uma pessoa
pode ser um mau encontro para outra, também um governo pode ser, e assim nos
ameaçar a tirar o ar, o futuro, a educação , a dignidade e, sobretudo, tentar
nos tirar a nossa capacidade de sermos causa para produzir outra coisa
diferente do que aí está. Luta-se contra os maus encontros fortalecendo os bons
encontros e os multiplicando com o máximo de força que tivermos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário