domingo, 19 de julho de 2020

nise & espinosa: conduzir pela mão


Nise da Silveira cita Bachelard quando este dizia que nossa saúde mental , ou a falta dela, depende  mais do que fazemos com nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa mente . Talvez  por isso  , depois de filosofar, Espinosa se dedicava a polir  cuidadosamente lentes, como um simples artesão, além de definir sua filosofia como um “conduzir pela mão” agenciado; Wittgenstein fechava  os livros para ir plantar  flores, feito um jardineiro;  Deleuze costumava desenhar entre as aulas, nisso se assemelhando a um cartógrafo; Plotino deixava  seus profundos estudos metafísicos para  ir alimentar com as próprias mãos pequenos órfãos, como se fosse um cozinheiro; depois de escrever  sobre o devir sem culpa  da natureza ,   Heráclito fabricava com as mãos lúdicos   brinquedos para as crianças.
Sobretudo para aqueles cujo pensamento ousa ir muito longe em busca de terras novas, para ele não se perder, é bom mantê-lo unido a mãos que tocam, transformam ou cuidam da realidade próxima, mãos que nada têm a ver com a “mão invisível” do mercado que  apenas sabe contar dinheiro, sem se importar eticamente de onde ele veio.  Somente  mãos que conduzem, cuidam ,alimentam ou transformam  podem ser    a afetiva âncora do pensamento no aqui e agora, sem fazê-lo perder o horizonte aberto  para o qual sempre se desterritorializa e decola .

“Poesia é Oficina de Transfazer a natureza” (Manoel de Barros)






imagens: cartunista israelense Yuval Robichek.





Segundo algumas interpretações, o termo “Gnossienne” deriva de “gnose” , “conhecimento”. Não qualquer conhecimento, mas aquele que une teoria e prática , conhecimento  e afetividade. Satie teria criado  esse nome inspirado no mito de Ariadne, que ensina a Teseu como entrar e sair do labirinto sem se perder: com o fio do afeto conduzindo a mão. Satie é citado por Manoel de Barros como um dos seus compositores preferidos.








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