terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

- procustos: ontem e hoje...

Na mitologia, Procusto era um personagem de índole questionável que oferecia uma “cama” fabricada por ele às pessoas que passavam cansadas por uma estrada. Quando as pessoas se deitavam na tal cama, porém, acontecia algo estranho: ninguém cabia direito nela. Quando a pessoa era maior do que a cama , Procusto pegava um machado e decepava a cabeça e os pés excedidos. Quando, ao contrário, a pessoa era menor , Procusto amarrava as pernas e os braços dela com correntes , esticando brutalmente até desmembrá-los... Ninguém sobrevivia àquela cama transformada em túmulo: querendo que cada um se amoldasse à força, Procusto acabava matando todo mundo. Quando as pessoas reclamavam, Procusto pegava uma régua e media com rigidez militar a cama, e dizia: “A cama é perfeita, normal, exata: cada lado é idêntico ao outro . A régua não mente! O defeito está em vocês : diferentes e heterogêneos. Amoldem-se , mesmo que se violentando, e caberão na minha Verdade!” A cama de Procusto pode receber vários outros nomes: “Minha Opinião”, “Meu Dogma”, “Meu Credo” ...O que não couber em tais “fôrmas”, Procusto vingativamente corta, nega, mata – física ou simbolicamente . Procusto odeia tudo que “não se pode passar régua”, diria Manoel de Barros. O mais triste nestes nossos dias é que muitos, não se sabe se por medo, resignação ou mero espírito de rebanho mesmo , voluntariamente se deitam nessa cama que os violenta e apequena . E assim perdem a cabeça, tornam-se acéfalos: nada mais veem ou pensam; ou então perdem as pernas , já não podendo ficar de pé, apenas prostrados , de joelhos.



“Quando a forma predomina, desaparece o sentimento.”                                                                                               (Balzac)





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