segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

terrorismos de Estado


Conforme argumenta Espinosa em seus livros sobre política, um dos maiores inimigos da democracia é o poder teológico-político. O que caracteriza o teológico é que ele se apoia em um livro que considera sagrado: o Alcorão, para os muçulmanos; o Talmud, para os judeus; a Bíblia, para os cristãos. O que fundamenta um Estado livre, ao contrário,  é que seu poder emana  de uma Constituição laica livremente instituída , podendo ser emendada ou substituída por outra mediante uma assembleia constituinte, obra humana, fato este que não pode acontecer com o Texto que fundamenta a teologia. O poder democrático nunca é teológico, porém o poder teológico, saindo de sua esfera própria, pode ambicionar ser político, mas nunca será democrático. Ao contrário, o poder teológico-político verá na democracia um inimigo a ser destruído em nome de Deus. Mas qual Deus? De qual religião? E aqui está o que revela a impossibilidade de um poder teológico-político se manter a não ser com a força ( não a de Deus, mas a das armas bem humanas, demasiado humanas...). Na democracia, a Constituição é um texto que todos seguem , mesmo os que pensam diferente, como liberais e socialistas. Mas judeus, cristãos e muçulmanos seguem livros sagrados diferentes que lhes conferem uma identidade religiosa incomunicável com a religião diferente da sua . Então, quando um poder teológico quer se tornar também poder teológico-político, ele quer na verdade não apenas desfazer a essência da política, que é pautar-se em uma Constituição livremente instituída que preserva a diversidade, como também afirmar-se como  religião única. Assim, quando o poder teológico, saindo da esfera que lhe é própria ( a esfera subjetiva-privada) ,  quer se tornar também poder político , correm risco não apenas a democracia e os partidos, como também as outras religiões que, mais cedo ou mais tarde, também serão perseguidas . O poder teológico-político , quando alcança o poder, traz para este certos dogmas inspirados em “gurus” ou “iluminados” que se creem governados diretamente por algum Deus abstrato, vingador, um Deus cheio de ódio, nunca o Deus do amor ( como aquele que São Francisco dançou...). Além disso, tal poder exigirá a força bélica de polícias e exércitos a serviço de seu delírio, pois um dos traços do poder teológico-político é a paranoia: eles se acham “eleitos” e, ao mesmo tempo, perseguidos. São ideias delirantes e paranoicas assim que movem o governo Bolsonaro e sua “política externa” de alinhamento automático com o terrorismo de Estado de Trump.










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