sábado, 25 de janeiro de 2020

alegoria sobre nossos dias

O escritor argentino Jorge Luís Borges conta  a seguinte história (que interpreto mais do que reproduzo): havia uma aldeia que era parte de um país. Nessa aldeia existia uma corporação poderosíssima de cartógrafos. Eles faziam mapas, isto é, cópias ou representações  da realidade.  Mas eles eram poderosos apenas para imitarem ou simularem algo já dado ; para criarem algo novo , como faz o artista, eles eram impotentes. Eles eram tão poderosos em simularem que certa vez fizeram um mapa da aldeia do tamanho da aldeia. Não satisfeitos , depois fizeram  um mapa do país do tamanho do próprio  país... A confusão então se instalou : muitos trocavam a realidade pela  mera simulação dela. Parecia já acontecer ali o que hoje se chama de “pós-verdade do mundo digital”. A simulação  era tão perfeita que os passarinhos no início se confundiam e  voavam para as árvores de mentira do mapa. Mas rapidamente os passarinhos descobriam, graças ao tino de que lhes dotou a vida , o logro daquela realidade fingida,  e nela não construíam seus ninhos. Porém o mesmo não aconteceu com certos  homens que , depreciadores da vida e suas mudanças, deliravam   encontrar uma realidade enfim estática  . Assim,  eles  tomaram  por verdade uma  realidade artificialmente fabricada , como aqueles que hoje creem em realidades fakes na tela de seus  celulares . Mas logo o mapa se tornou passado, como um retrato estático em relação à pessoa viva da qual ele foi tirado. As pessoas mudam e se transformam, ficam diferentes, como tudo o que vive sob o tempo, mas os retratos, assim como os mapas, permanecem sempre os mesmos. Porém  os homens conservadores viam nisso uma virtude, pois consideravam a  mudança um demoníaco pecado. E era de lá, desse país na mentira  conservado, que eles condenavam   toda realidade nova não aprisionada  naquele mapa .  Eles só não  esperavam que tal realidade fake, tida por eles como  “Verdade Eterna”,  começasse tão cedo  a rasgar...






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