segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

o tempo-será...


Em toda  passagem de ano comemoramos um ano novo: um ano velho  vai, um ano novo vem. Mas o ano novo não é um começo radical : ele é a continuidade de um mesmo tempo. É por isso que o ano novo é contado e recebe um número : 2020 é um ano novo de um mesmo tempo que é numerado, então, com um ano a mais. 2020 é um novo ano de um mesmo tempo, e não um tempo novo. 2020 é anunciado como ano  novo, mas  o tempo que ele traz  em parte ainda está refém, infelizmente, de uma mentalidade retrógrada  , nostálgica de um passado de trevas.
Entre os gregos o tempo era vivido de outra maneira. O tempo não era concebido de forma linear e numérica. Os gregos viviam o tempo como repetição cíclica. Dois eventos determinam o ciclo do tempo: o nascimento e a morte, a criação e a destruição. O tempo nasce, cresce e morre, como tudo o que é vivo. Porém, o tempo renasce, vencendo sua própria morte.  O tempo que renasce é um tempo novo que nada tem a ver com o que morreu. Esse tempo novo  não é o desenvolvimento de um tempo antigo. Por isso  nenhuma data ou número pode determinar esse tempo  renascido outro. É no tempo novo, e não no tempo morrido, que o tempo mostra sua verdadeira face: deixar para trás tudo o que está morto.
Quantos tempos novos já existiram? Impossível numerar... Infinitas vezes já houve um tempo novo. Apesar disso, sempre haverá tempo novo, a despeito dos homens conservadores do antigo.  É para  criar-se novo que o tempo se destrói como antigo. Repetindo-se, o tempo  sempre retorna, diferente. O tempo não é eterno: eterna é a repetição através da qual o tempo retorna, novo.

“Só podemos destruir
sendo criadores."
(Nietzsche)








Nenhum comentário:

Postar um comentário