segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

a tolerância...


Anda muito estranho este nosso país: li ontem reportagem informando que livros didáticos estão sendo triturados para virarem papel higiênico! E o mais absurdo: são livros ainda na embalagem, que nunca chegaram, e nem irão chegar , às mãos dos alunos...Isso me lembrou uma situação que vivi recentemente: vi em uma lata de lixo perto de casa um livro que ali estava jogado fora. Era um livro de filosofia: “Tratado sobre a Tolerância”, de Voltaire. Notei o livro porque, antes, reparei em um senhor morador de rua que revirava a lata em busca de coisas que ainda podiam valer algo. Quando ele saiu, fui salvar do lixo a Tolerância. A situação me lembrou um verso de Manoel de Barros: “O que é verdadeiramente novo nunca vira sucata”. A Tolerância estava perto de um celular que um dia já foi novo, mas que agora virou sucata em razão de um modelo novo que o mercado lançou . Porém este mesmo modelo novo, não demora muito, virará sucata também. Mas valores o mercado não fabrica, embora ele viva de sucatear os valores com sua lógica de a tudo reduzir a coisa que se compra e vende...Peguei enfim a Tolerância e a retirei daquele lugar de coisas reduzidas a nada. A Tolerância estava muito machucada... Levei-a para casa e a pus perto da janela para pegar sol, secar e curar. As folhas estavam quase dissolvendo, porém não eram as folhas que eu queria salvar, na verdade eu queria manter viva outra espécie de realidade. “Ab-soluto” significa: “o que não é soluto, o que não se dissolve”. Mesmo que todos os livros sobre a Tolerância fossem jogados fora pela mentalidade  utilitarista ou pelo obscurantismo fundamentalista, seriam dissolvidos papéis e tintas, mas não a Ideia de Tolerância enquanto ela viver na alma , na palavra e na ação de quem não a deixar “virar sucata”. Um valor absoluto não é um valor eterno, um valor absoluto é aquele que a gente não deixa morrer. A Tolerância está viva e bem, nova como sempre, apesar daqueles que a querem no lixo. A luz do sol faz milagres...



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