quinta-feira, 5 de setembro de 2019

nise & espinosa


Nise da Silveira cita o filósofo Bachelard quando este dizia que nossa saúde mental , ou a falta dela, depende mais do que fazemos com nossas mãos do que daquilo que teorizamos com nossa mente . Talvez por isso, depois de filosofar, Espinosa se dedicava a polir lentes, como um simples artesão; Wittgenstein largava os livros para ir plantar flores, feito um jardineiro; Deleuze costumava desenhar entre as aulas, nisto se assemelhando a um cartógrafo; Heidegger curava suas angústias existenciais se fazendo carpinteiro;   Plotino deixava seus profundos estudos metafísicos para ir alimentar com as próprias mãos crianças órfãs, como se fosse um cozinheiro; após escrever  poemas, Manoel de Barros oferecia as mãos em concha para que nelas os passarinhos fizessem um ninho.
Sobretudo para aqueles cujo pensamento ousa ir muito longe em busca de terras novas, para ele não se perder, é bom mantê-lo unido a mãos que tocam, transformam ou cuidam da realidade próxima, mãos que nada têm a ver com a “mão invisível” e pragmática do mercado e sua lógica de apenas contar dinheiro, sem se importar eticamente de onde ele veio. Somente mãos que cuidam ,alimentam ou transformam podem ser a afetiva âncora do pensamento no aqui e agora, sem fazê-lo perder o horizonte aberto para o qual sempre decola .
                                                                                                              
(imagem: “Cartas a Spinoza”, maravilhoso livro de Nise da Silveira, criadora do Museu de Imagens do Inconsciente)







2 comentários:

  1. Querido professor, estou encantada com o seu blog. Consigo ficar aqui por várias horas lendo e relendo e imaginando o quanto suas aulas contribuíram para que a poesia se instalasse, mais ainda, na minha vida. Lhe sou grata pelas aulas, pela minha orientação no TCC e por escrever esse blog.
    Espero que um dia possamos nos encontrar pessoalmente para que eu possa lhe dar um abraço afetuoso.
    Beijos,
    Janaina Mendes

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  2. Muito obrigado, Janaína! Você está no Nordeste ou no Rio? Bem, se você não ler essa resposta por aqui, a gente se fala por e-mail ( vi sua mensagem pedindo alguma coisa sobre etimologia, estou preparando algumas referências para lhe enviar em breve ). Bjs.

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