Quando um acontecido passa e se torna
passado, e entre o acontecido e nós vai aumentando uma distância que só o tempo pode medir ( pois
não é uma distância no espaço), esse passado que passou , sua passagem e o seu
ficar para trás, é algo irreversível? O que passou se vai e nunca pode ser de
novo vivido a não ser como um fantasma que se evoca ? Ou será que é o passado
que retém e salva o que no presente passa? Afinal, dizia Bergson, não é o
passado que passa, quem passa é o presente. Não é o acontecido que se afastou,
fomos nós que nos afastamos dele? Somos como peixes que saíram da nascente do
rio onde nascemos e fomos ao mar? É possível, tal como fazem os peixes, desterritorializar-se
do mar, entrar de novo na foz do rio,
subi-lo contra a correnteza e alcançar de novo a fonte onde nascemos? Se isso
for possível, esse retorno ao passado não é nostalgia, ele é o intuir a vida que nunca se separa totalmente de si mesma. Ir para o passado não é um voltar, mas um
ir para dentro, cada vez mais próximo de onde o tempo brota, para assim descobrir, intuindo, que é o próprio tempo a água que se torna rio, avança como fluxo e se horizonta, azul, como mar.
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