Em Espinosa, tudo é luz.
O aumento de potência é um esclarecimento ( es-claro: tornar mais claro);
a diminuição de potência, um assombreamento.
Deleuze
Quando se fala muito claramente,
fala-se muito infinitamente.
Maria Gabriela Llansol
Quando se fala muito claramente,
fala-se muito infinitamente.
Maria Gabriela Llansol
Segundo Espinosa, o infinito somente pode ser alcançado pelo intelecto. Não quando este conta, mede ou calcula. Tampouco quando ele apenas raciocina ou teoriza. O absolutamente infinito, Deus, somente pode ser alcançado pelo amor intellectus dei , pelo amor do intelecto a Deus ( em Espinosa, a palavra "Deus" tem um sentido diferente daquele veiculado pelas religiões) . O intelecto apenas consegue alcançar o infinito quando ele aprende a exercer um tipo muito singular, e raro, de amor. O intelecto também pode amar. Se ele não chega a esse amor não será um intelecto completo, dele não nascerá um conhecimento como expressão de sua máxima potência.Esse amor de que fala Espinosa nada tem a ver com o amor romântico . Espinosa se inspira no poeta romano Lucrécio, que mostrava que "amor" deriva do termo "a" com função de negar ( como em "a-fasia" = "sem fala") mais a expressão "mor" como abreviação da palavra "morte". Assim, "amor" é "não morte". A não morte não é uma vida advinda após a morte, a não morte é a própria vida que, potencializando-se em vida, vence os vários tipos de morte.
Eis então a difícil tarefa do intelecto: somente ele é o instrumento para nos fazer compreender Deus (somente ele, e não a imaginação). No entanto, como é difícil ao intelecto amar...O intelecto crê que amar é coisa apenas do corpo e da sensibilidade. E que amar afasta-nos da objetiva verdade.
Mas se o intelecto aprender esse amor que somente ele pode, aprenderá que há realidades mais verdadeiras do que aquelas que ele alcança apenas com a objetiva verdade. Um intelecto que a esse amor aprende, metamorfoseia-se e se torna mais do que pode compreender todo intelecto que não ama. O intelecto assim transfigurado já não será diferente de um poeta. Não um poeta apenas de versos, mas um poeta do pensamento e das ideias, como foi Espinosa.
No Iluminismo, é a razão, e tão somente ela, a fonte de Luz, como um sol.Em Espinosa, diferentemente, a Luz é o infinito mesmo, e se assemelha mais ao clarão do relâmpago. A Luz é o próprio Amor, como relâmpago irrefreável que desfaz a treva . A razão científica é o intelecto refletindo a Luz, como um espelho.Um espelho reflete o que nele toca. Refletir é devolver o que se recebeu. A razão devolve o Amor que recebe, pois é graças à Luz que ela conhece: a Luz devolvida ilumina o mundo a conhecer. É pelo seu poder de refletir que a razão conhece o mundo externo, desde que se faça dia .
Mas o intelecto filosófico alcança o máximo do que ele pode quando não apenas reflete a Luz, e sim a absorve : faz-se nele então dia, mesmo que ao redor seja tudo noite. Ele a absorve para conhecer a si mesmo, e não apenas ao mundo externo: quanto mais translúcido, mais o intelecto se conhece absorvendo a Luz que é Amor lhe esclarecendo, clareando. O Amor assim conhecido lhe está dentro e lhe está fora: é o Todo, é Tudo. Relâmpago Absoluto, no clarão e na velocidade.Todas as coisas que a razão conhece são Luz refletida. Porém, o intelecto filosófico, como instrumento metafísico-poético, absorve a Luz para ser da Luz uma expressão potentemente viva:"figuras de luz e não mais figuras geométricas reveladas pela luz" (Deleuze). Dessa maneira, torna-se o intelecto também Amor, absorvendo-o como Afeto : beatitude translúcida a si, desfazendo toda opacidade, embora não se sabendo tudo o que a Luz-Amor pode. O termo "beatitude" deriva de beatus, que significa "riqueza". Não a riqueza de acumular coisas, mas riqueza de absorver o máximo da Luz , para assim fazer dela a rara salut (saúde) conquistada, afirmada . O intelecto somente alcança o infinito quando o encontra primeiro dentro dele, como clarão que deveio Ideia, para assim desabrir-se , no pensar e no agir.
No Iluminismo, é a razão, e tão somente ela, a fonte de Luz, como um sol.Em Espinosa, diferentemente, a Luz é o infinito mesmo, e se assemelha mais ao clarão do relâmpago. A Luz é o próprio Amor, como relâmpago irrefreável que desfaz a treva . A razão científica é o intelecto refletindo a Luz, como um espelho.Um espelho reflete o que nele toca. Refletir é devolver o que se recebeu. A razão devolve o Amor que recebe, pois é graças à Luz que ela conhece: a Luz devolvida ilumina o mundo a conhecer. É pelo seu poder de refletir que a razão conhece o mundo externo, desde que se faça dia .
Mas o intelecto filosófico alcança o máximo do que ele pode quando não apenas reflete a Luz, e sim a absorve : faz-se nele então dia, mesmo que ao redor seja tudo noite. Ele a absorve para conhecer a si mesmo, e não apenas ao mundo externo: quanto mais translúcido, mais o intelecto se conhece absorvendo a Luz que é Amor lhe esclarecendo, clareando. O Amor assim conhecido lhe está dentro e lhe está fora: é o Todo, é Tudo. Relâmpago Absoluto, no clarão e na velocidade.Todas as coisas que a razão conhece são Luz refletida. Porém, o intelecto filosófico, como instrumento metafísico-poético, absorve a Luz para ser da Luz uma expressão potentemente viva:"figuras de luz e não mais figuras geométricas reveladas pela luz" (Deleuze). Dessa maneira, torna-se o intelecto também Amor, absorvendo-o como Afeto : beatitude translúcida a si, desfazendo toda opacidade, embora não se sabendo tudo o que a Luz-Amor pode. O termo "beatitude" deriva de beatus, que significa "riqueza". Não a riqueza de acumular coisas, mas riqueza de absorver o máximo da Luz , para assim fazer dela a rara salut (saúde) conquistada, afirmada . O intelecto somente alcança o infinito quando o encontra primeiro dentro dele, como clarão que deveio Ideia, para assim desabrir-se , no pensar e no agir.
Bela aula, Elton!
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