segunda-feira, 8 de julho de 2019

Francesca



Ela entrou e não disse nada, apenas sentou na cadeira perto da janela. Não estava frio, nem quente; era um dia de setembro , entre o inverno e a primavera. A janela estava entreaberta; e  a hora do dia,  incerta. Havia luz, não muita; fazia azul, porém encoberto. Ela tirou da bolsa um cigarro e  acendeu. O vermelho da brasa avançava lentamente sobre o branco do papel  : parte do cigarro se tornava cinza a cair  no chão , enquanto   outra parte virava  fumaça a ir bater no teto. E assim o cigarro silenciosamente ia se consumindo parecendo que apagava...Porém  não se apagou: o rubro da brasa que parecia morta renasceu no esmalte vermelho que cobria as unhas dela. Aquele acender-se contagiou e fez-se também nela : a incontível vida era nela agora uma chama de brasa branda, porém  intensa. A chama   avançava  como faz num incenso: deixando a cinza cair à terra, enquanto uma voluta espiralada, mais do que fumaça, atravessava a janela e se libertava, etérea .




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