Ela
entrou e não disse nada, apenas sentou na cadeira perto da janela. Não estava
frio, nem quente; era um dia de setembro , entre o inverno e a primavera. A
janela estava entreaberta; e a hora do
dia, incerta. Havia luz, não muita;
fazia azul, porém encoberto. Ela tirou da bolsa um cigarro e acendeu. O vermelho da brasa avançava
lentamente sobre o branco do papel :
parte do cigarro se tornava cinza a cair
no chão , enquanto outra parte
virava fumaça a ir bater no teto. E
assim o cigarro silenciosamente ia se consumindo parecendo que
apagava...Porém não se apagou: o rubro
da brasa que parecia morta renasceu no esmalte vermelho que cobria as unhas
dela. Aquele acender-se contagiou e fez-se também nela : a incontível vida era
nela agora uma chama de brasa branda, porém
intensa. A chama avançava como faz num incenso: deixando a cinza cair à
terra, enquanto uma voluta espiralada, mais do que fumaça, atravessava a janela
e se libertava, etérea .
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